Já passa de uma da manhã, e ainda não ouvi o Wick chegar. A raiva que sinto por ele continua latente, como uma brasa que não se apaga, mas há algo mais queimando dentro de mim: preocupação. Tento me convencer de que não ligo, de que ele merece meu silêncio, mas meu coração lateja inquieto.
Levanto da cama, ainda de camisola, e vou até a varanda. A porta do corredor está destrancada — Dona Helena trancou só a do quarto. Não sei se foi de propósito ou descuido, mas, de qualquer forma, foi um alívio.
A casa está mergulhada num silêncio incômodo. Sigo descalça pelo piso frio até a varanda do quarto de Wick. Encosto a testa no vidro da porta, protegendo os olhos com a mão para enxergar melhor. Está tudo escuro lá dentro. As cortinas estão abertas, a cama arrumada demais — o lençol branco esticado com perfeição, o travesseiro solitário no centro e o edredom dobrado com exatidão na ponta. Um vazio calculado.
Volto para o meu quarto e me deito na rede, fingindo que só quero passar o tempo. Mas