Eu só vim deixar um café. Juro que era só isso. Samuel e Murilo estavam trabalhando no galpão, e eu achei que seria bom quebrar o clima pesado da semana. Mas quando chego perto e escuto meu nome, meu instinto me manda parar.
As vozes deles ecoam abafadas, mas claras o suficiente. O som do vento entra pelas frestas das janelas, e mesmo assim, a frase chega nítida como uma lâmina.
— “Fui no médico. Fiz contagem de esperma, exames, tudo.”
Congelo. Meu corpo inteiro parece perder o chão.
Murilo pergunta qualquer coisa, mas eu já não ouço direito. O sangue começa a latejar nos meus ouvidos, e o coração acelera tanto que mal consigo respirar.
As palavras me atravessam como um soco no estômago. Instintivamente, dou um passo para trás, o café tremendo nas minhas mãos. O calor do copo de papel queima meus dedos, mas eu não sinto.
Ele fez exame…
A garganta fecha, os olhos ardem. Eu sei que Samuel não fez por mal — ele é racional, precisa de respostas.
O ar parece desaparecer. Me afasto do