Já faz uma semana desde aquela noite na praia. Desde que, pela primeira vez em muito tempo, senti que Jade e eu respirávamos no mesmo ritmo. Mas agora, sentado ao lado de Murilo, com os relatórios abertos sobre o capô da viatura, o peso do cotidiano volta a se instalar.
O caso novo é pesado — uma sequência de desaparecimentos que tem deixado toda a equipe sem dormir direito. Murilo fala alguma coisa sobre as evidências, mas minha mente divaga, volta para ela, para o jeito como o vento bagunçava o cabelo de Jade quando o sol nasceu naquele dia.
— Tá me ouvindo, Samuel? — ele resmunga, batendo a caneta contra o papel.
— Tô, tô sim — respondo, meio automático.
Ele me encara de lado, desconfiado.
— Você está esquisito. Desde a semana passada.
Suspiro, cruzando os braços.
— Fui ao médico, Murilo. Fiz uns exames.
— Está doente? — o tom muda, preocupado.
— Não. — balanço a cabeça. — Fui ver como andava… sabe, minha fertilidade.
Murilo franze a testa, claramente sem entender.
— A Jade… —