O banco do carro parece um campo de batalha. O couro frio contra minhas costas contrasta com o fogo que arde no meu ventre, uma chama incandescente que se espalha a cada contração, consumindo minhas forças. Minha mão se agarra à barriga instintivamente, como se meus dedos frágeis pudessem formar uma muralha contra o destino, como se eu tivesse algum poder para proteger aquilo que mais temo perder. O suor escorre pela minha testa, gelado e quente ao mesmo tempo, numa contradição cruel que acompanha cada respiração difícil.
O carro arranca, e sinto o motor rugir sob a condução violenta de Samuel. Ele troca as marchas como se brigasse com o próprio carro, os punhos rígidos, a mandíbula cerrada, como se pudesse arrancar do mundo a pressa que nos devora. O som do motor se mistura ao eco irregu