O juiz ajeita os óculos de leitura, franzindo o cenho ao virar uma folha solta que repousava sobre a mesa do plenário. O murmúrio abafado da sala cessa de imediato quando ele ergue o olhar, a voz firme mas com um peso diferente:
— Antes de ouvirmos o réu, este juízo tomará ciência de um documento recém-incluído nos autos.
Meu coração trava por um segundo. Olho em direção ao banco de testemunhas. Otávio está lá, de terno escuro, expressão impassível — ou tentando parecer. Mas seu maxilar trinca ao ouvir a próxima frase.
— Trata-se do laudo psicológico da menor Gabriela Portulla, filha do réu, de apenas sete anos. — O juiz ergue o papel, a voz mais grave. — A avaliação foi conduzida por uma psicóloga forense indicada pelo Ministério Público, conforme os trâmites legais. E o conteúdo deste laudo é, no mínimo, preocupante.
Otávio desvia o olhar. Pela primeira vez, algo em sua postura se desfaz — como um verniz trincado.
— A criança foi submetida a sessões lúdicas com uso de desenhos e a