— Casar!? Casar com o John Walker!? — A exclamação de Elizabeth Stewart foi uma mistura de surpresa e felicidade.
— Sim, isso mesmo — confirmou Helen com um sorriso calculado.
Helen era madrasta de Elizabeth, e via naquele casamento a salvação da família Stewart e sabendo do sentimento da enteada por John desde a adolescência, isso tornaria tudo mais fácil.
— Você aceita?
— Mas como? Nós mal nos conhecemos... — Lizzie, como era chamada, sempre fora apaixonada por John, mas sua timidez a impedia de se declarar.
— Deixe-me explicar. Você sabe que é comum entre famílias ricas firmarem contratos de casamento para benefício mútuo. Não é mesmo, querido?
Ela se voltou para o homem apático ao seu lado, Peter, pai de Elizabeth.
— Sim, querida — murmurou Peter, olhando para a filha. — Mas só se você concordar com os termos.
— É claro que ela vai concordar — disse Helen, em tom autoritário. Peter, como sempre, apenas acatava suas decisões.
— Mas... por quê? Não entendo. — Elizabeth franziu a testa, confusa.
— Estamos enfrentando dificuldades na siderúrgica — admitiu Helen, omitindo que estavam praticamente falidos.
Apesar das boas intenções de Peter como administrador, ela havia dilapidado boa parte do patrimônio com gastos e investimentos irresponsáveis.
— A proposta dos Walkers não só nos tiraria dessas dificuldades, também traria grandes benefícios.
Esses benefícios seriam para ela e Peter, o que não foi mencionado de propósito.
— E por que eu? Existem tantas moças mais ricas, bonitas e... mais adequadas.
Elizabeth se lembrava de como John sempre fora o centro das atenções entre as jovens da alta sociedade, todas tentavam fisga-lo de alguma forma.
Ela, discreta e reservada, jamais ousou se destacar.
— Escute, querida... — Helen raramente usava esse termo sem segundas intenções. — O acordo é simples. Você só precisa permanecer casada com John por três anos, até que ele assuma oficialmente a presidência do grupo Walker. É uma exigência do avô dele. Só o considerará apto a assumir o cargo se estiver casado. É uma forma de demonstrar responsabilidade. E até lá, quem sabe vocês se apaixonam de verdade? — disse, piscando.
— E John? Foi ele quem sugeriu isso? — Elizabeth perguntou, com o coração acelerado.
— Isso foi acertado entre as famílias. Se ele quiser ser o presidente do grupo Walker, ele vai aceitar. Ele ainda não se casou, e a pressão do avô é enorme ou ele casa ou a administração de um dos maiores conglomerados do país passará para administração de terceiros.
— Então ele não me escolheu... — murmurou, decepcionada.
— Isso é irrelevante! O importante é que você será a senhora Walker! Imagine só a cara daquelas garotas que te desprezavam — disse Helen, já se imaginando sogra de um dos homens mais poderosos do país.
Mas Elizabeth nunca se importou com status. O que realmente importava para ela era o amor.
Estava tão radiante e sequer se preocupou em saber os termos do acordo que selaria seu futuro.
Ignorava completamente as dívidas da família, pois seu pai e a madrasta escondiam a verdade dela e de seu meio-irmão, Edward, enquanto tentavam manter um estilo de vida que já não podiam sustentar.
A mãe de Lizzie havia falecido quando ela tinha apenas sete anos.
O pai, devastado pela perda, mergulhou em uma tristeza profunda, tornando-se apático e distante, quase ausente na vida da filha.
Um ano depois, casou-se novamente com Helen, uma mulher fria, manipuladora e gananciosa. Com ela teve Edward, que logo se tornou o centro das atenções.
O menino cresceu mimado, enquanto Lizzie era cada vez mais negligenciada. O pai fazia tudo que Helen queria, e, diante dele, ela até fingia algum carinho por Lizzie.
Lizzie, por sua vez, nutria uma paixão por John desde o momento em que o viu, logo após completar dezessete anos.
Ele chegou a demonstrar algum interesse, o que a deixou nas nuvens. No entanto, ela ainda era muito jovem, e logo partiu para estudar no exterior.
Eles se encontravam ocasionalmente em eventos sociais frequentados pelas duas famílias, mas raramente conversavam.
Sendo a família de John uma das mais ricas e influentes do país, não faltavam moças tentando conquistá-lo.
Lizzie, apesar de ser naturalmente alegre e espontânea, tornava-se tímida na presença dele. Ainda assim, era evidente para todos que ela estava se transformando em uma jovem cada vez mais bela e atraente.
Após ter concluído os estudos em administração por insistência do pai e feito um curso de gastronomia, sonhava em abrir um negócio no ramo.
Ela estudou em uma das mais renomadas escolas de gastronomia na França, trabalhou com chefs famosos e até ganhou um concurso.
Já estava prestes a comunicar seus planos a sua família, mas a notícia do casamento mudou drasticamente seus planos e sonhos.
Lizzie acreditava estar vivendo um conto de fadas. Sonhava que, com o tempo, conquistaria o coração de John.
Já o imaginava apaixonado por ela, como nos romances que lia quando adolescente. Cultivara por tantos anos um amor puro, sincero, mas também ingênuo.
Mal sabia que aquele casamento era uma sentença.