Capítulo 7

O segundo andar do Hospital cheirava à desinfetante. Charlotte guiou Milli pelo corredor, suas mãos ainda apertando o pequeno buquê e o papel de emprego amassado dentro da bolsa que carregava. A visão do homem e da menina triste, e a tentação salarial, formavam um ruído constante em sua mente.

Elas encontraram o Quarto 204.

Ao entrarem, o ambiente era acolhedor, apesar da palidez das paredes hospitalares. Rose, a mãe de Charlotte, estava sentada na cama, usando uma camisola de flanela, com o cabelo grisalho preso. Ela estava comendo uma gelatina vermelha com uma colher de plástico. 

A reação de Rose foi imediata. Um grande sorriso iluminou seu rosto, e ela estendeu os braços.

"Minha querida! Meu Deus, você veio voando! E minha netinha linda!"

Milli, que era ligada à avó por um carinho profundo, correu imediatamente para a cama e se jogou nos braços de Rose, com cuidado. "Vovó! Eu trouxe flores! Você está bem, não está?"

"Estou perfeitamente bem agora, meu amor. Foi só um susto," Rose garantiu, beijando o topo da cabeça de Milli.

Charlotte se aproximou, deixando o buquê na mesinha de cabeceira. Ela beijou a bochecha da mãe com ternura.

"Você me deu um baita susto, mãe. Eu dirigi muito preocupada achando que era grave," Charlotte disse, com um misto de alívio e repreensão suave. Faziam três anos que ela não voltava ao Arizona, e a distância tornava os sustos ainda piores.

"Eu sei, eu sei. Me desculpa, querida. Foi a Beth que se desesperou," Rose disse, lançando um olhar divertido para a neta. "Mas olhe o lado bom, você veio me visitar! Sente-se, me conte tudo. Como você está?"

Charlotte se sentou na beira da cama, mas sua mente não conseguia se acalmar. Mesmo enquanto falava sobre Milli e o trabalho, seus olhos se fixavam na janela.

Mudar para cá? Phoenix é tão diferente do Arizona.

Ela começou a considerar o cenário: o Arizona era onde ela cresceu, onde tinha memórias pré-casamento. Milli seria feliz ali, longe do clima agitado da cidade grande? E o dinheiro... Seis mil dólares.

Rose, que conhecia a filha como a palma da mão, percebeu a distração.

"Charlotte," Rose disse, gentilmente, pondo de lado a taça de gelatina. "Você está a quilômetros de distância. Você está aqui, mas sua cabeça está em outro lugar. O que está acontecendo? É o Roman? É o asilo?"

Charlotte hesitou. Olhou para Milli, que já estava envolvida com um livro de colorir na cadeira ao lado. Ela tirou o papel amassado da bolsa e o estendeu para a mãe.

"Aconteceu uma coisa no elevador. Eu encontrei um homem... lindo, e ele tinha uma garotinha. Uma garotinha linda, mas muito triste," Charlotte começou, e contou a história do encontro apressado e do papel que ele deixou cair, e o valor do salário.

Rose leu o papel, e seus olhos se arregalaram. "$6.000 por mês?! Charlotte, isso é uma fortuna para uma babá! Você... você está pensando em ligar para esse número?"

Charlotte suspirou, esfregando a testa. "Eu não sei. É uma loucura, não é? Eu amo o meu trabalho no asilo, amo o que faço. Mas o Sr. Torres está me pegando no pé por causa das regras. Me ameaçou de demissão  por causa de um biscoito."

Ela olhou para o papel, para a promessa de estabilidade. Um novo começo.

"Mas não é só isso, mãe. Eu não sei explicar, mas... eu sinto que tenho que cuidar daquela garotinha triste. É uma sensação estranha. Eu sinto que tenho que trabalhar para aquele homem."

Rose segurou a mão da filha, sua expressão agora séria. "Filha, você sempre teve um coração mole. Mas você tem um emprego que ama, mesmo com o chato do seu diretor. Pensar em largar tudo, mudar de cidade, por um estranho... você tem certeza de que não é apenas a atração pelo homem bonito e um salário alto?"

"Eu não sei o que é," Charlotte admitiu, olhando para o papel. "Mas o medo do Sr. Torres, o sonho da Milli e a tristeza nos olhos daquela criança... tudo se juntou. E se essa for uma chance que a vida está me dando para recomeçar de verdade, sem ter que me preocupar com cada centavo? Talvez eu possa ligar... só para a entrevista."

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