Capítulo 6

Assim que Charlotte desligou o motor, o silêncio do amanhecer do Arizona envolveu o carro. O ar estava seco e limpo, carregado de um cheiro sutil de sálvia silvestre. O som suave da porta do carro de Charlotte se abrindo e o ranger de suas dobradiças foi suficiente para despertar Milli, que piscou, desorientada pela luz laranja do sol.

"Chegamos, mamãe?" Milli perguntou, a voz ainda pastosa de sono, esfregando os olhos azuis.

"Chegamos, meu amor," Charlotte respondeu, fechando a porta com cuidado. Ela deu a volta, abrindo a porta traseira, e desengatou o cinto de segurança da filha. "Bem-vinda ao Arizona."

Milli saiu do carro e esticou o corpo, observando o novo cenário com sua curiosidade habitual. As duas pararam por um momento, lado a lado, absorvendo a atmosfera.

A vizinhança era de uma simplicidade charmosa, uma fileira de casas baixas com telhados de telha espanhola e jardins que desafiavam o clima árido com cactos floridos e suculentas resistentes. O ambiente era notavelmente calmo.

Nesse instante, a porta da casa vizinha, pintada em um tom de verde-água, se abriu, e uma mulher de cabelos grisalhos e óculos de leitura, usando um avental de jardinagem, saiu. Era Beth, a vizinha e amiga de longa data da mãe de Charlotte. Beth deu um pequeno grito de surpresa agradável.

"Charlotte! Minha nossa, você chegou rápido! Pensei que só viria mais tarde!" Alice exclamou, caminhando apressadamente até a cerca.

Charlotte sentiu o coração acelerar. "Beth! Eu dirigi o mais rápido que pude. Como a mamãe está? "

Beth balançou a cabeça e sorriu, um sorriso que dissipou metade da tensão que Charlotte carregava. "Ah. Sua mãe está... ela está bem. Não é nada de vida ou morte, querida. Eu a levei ao St. Jude para exames, para garantir que não fosse nada sério. Mas os médicos acham que foi um susto, estresse, talvez. Ela está bem melhor agora."

Um alívio imenso e esmagador inundou Charlotte, fazendo seus joelhos fraquejarem. Ela pensou na viagem cancelada... tudo por um susto, mas um susto que havia sido amplificado.

"Ah, graças a Deus," Charlotte sussurrou, a mão no peito, sentindo o peso das últimas vinte horas finalmente a deixando.

"Sim, graças a Deus," Beth repetiu. "Ela está ansiosa para ver vocês duas, especialmente essa pequena aqui," ela disse, piscando para Milli. "Eu vim para casa tomar um banho, mas você pode encontrá-la no Hospital St. Jude. Ela está esperando vocês."

"Muito obrigada. Por tudo," Charlotte disse, sinceramente grata.

"Não há de quê, querida. Agora, vá lá! E entre na casa. Sua mãe deixou tudo pronto, sabe como ela é," Beth disse, antes de se virar para regar um pequeno cacto.

Charlotte olhou para a casinha simples. O costume de sua mãe, que morava em uma cidade pequena e calma, era deixar a porta da frente destrancada, ou mesmo apenas encostada, confiando na boa-fé da vizinhança.

Charlotte empurrou a porta suavemente. O aroma familiar de lavanda e poeira antiga, tão característico da casa de sua mãe, as envolveu. Ela guiou Milli para dentro, onde o silêncio era interrompido apenas pelo som de suas malas sendo arrastadas.

"Viu, Milli? A vovó Rose está bem! Agora vamos nos ajeitar rapidinho, deixar as malas no quarto de hóspedes e ir correndo ver ela no hospital."

Milli, que tinha ficado preocupada com a reação da mãe, sorriu novamente. "Eu sabia que ela era forte!"

Charlotte pegou as malas e as levou para o pequeno quarto de hóspedes, onde as colchas bordadas de sua mãe as esperavam.

Dez minutos depois de deixarem as malas e lavarem o rosto, Charlotte e Milli já estavam no carro novamente, rumo ao Hospital. O medo havia se transformado em uma doce pressa. Charlotte segurava a mão de Milli com firmeza no volante. Milli, por sua vez, apertava contra o peito um pequeno buquê improvisado de flores do deserto — algumas flores amarelas e roxas que ela colhera com carinho no jardim da avó.

O hospital estava a uma curta distância. Charlotte estacionou o carro e, com a ansiedade impulsionando seus passos, as duas correram para a entrada.

"Rápido, mamãe! O elevador!" Milli exclamou, vendo as portas de metal deslizarem, prontas para se fechar.

Charlotte acelerou o passo e, com um suspiro de alívio, elas conseguiram deslizar para dentro no último instante.

Dentro, havia um homem forte de cabelos escuros e olhos azuis intensos, acompanhado por uma menina, que segurava um livro. A atração entre Charlotte e o homem foi imediata e avassaladora, fazendo-a prender a respiração.

A batida leve do fechamento das portas mal havia cessado quando Milli tropeçou levemente e o pequeno buquê de flores escorregou de suas mãos, espalhando-se pelo chão de borracha do elevador.

"Oh!" Milli murmurou, abaixando-se imediatamente.

O homem se adiantou com um sorriso tenso e se ajoelhou para ajudar a recolher as flores. Milli, com a inocência destemida da infância, tentou iniciar uma conversa com a menina. "Você gosta de ler?"

A menina, no entanto, apenas apertou o livro com mais força e se afastou sutilmente para um canto.

"Desculpem," o homem disse, levantando-se e entregando a última flor para Charlotte. "Temos passado por momentos difíceis."

Charlotte sentiu uma onda de empatia pela criança. Ela estava prestes a dizer algo quando o elevador parou no primeiro andar.

"É a nossa parada," o homem disse, e saiu rapidamente, puxando a filha pela mão.

Assim que ele saiu, um pequeno pedaço de papel branco escorregou de seu bolso e pousou no chão do elevador.

"Espere! O seu papel!" Charlotte gritou, estendendo a mão.

Mas era tarde. A porta do elevador deslizou, prendendo Charlotte dentro. Ela apertou o botão do segundo andar (onde o quarto de sua mãe estava), frustrada.

"Deixa que a mamãe pega," Charlotte disse a Milli, pegando o papel do chão.

Era um anúncio de babá datilografado, dobrado ao meio. Ao desdobrá-lo, Charlotte paralisou.

PROCURA-SE CUIDADORA / BABÁ INTEGRAL Função: Cuidar de menina de 8 anos. Requisitos: Disponibilidade total, experiência comprovada. Local: Casa particular (informações completas após o primeiro contato). Pagamento: $6.000 (Seis mil dólares) por mês.

Charlotte ficou em choque. Seis mil dólares. O salário que ela ganhava como cuidadora no asilo, com os riscos de demissão do Sr. Torres, era mal a metade disso. Ela pensou na praia que Milli queria, nas contas que viviam apertando, no carro que precisava de manutenção.

Por um breve momento, a visão do homem de olhos azuis e da menina triste se misturou à quantia astronômica do salário. O que eu não faria com $6.000 por mês? A tentação era um sussurro forte em sua mente.

O elevador parou.

"Mamãe, chegamos," disse Milli, puxando a mão da mãe.

Charlotte guardou o papel amassado no bolso do uniforme, seu coração batendo de forma irregular. Ela forçou um sorriso para Milli. O sonho da praia havia sido adiado; talvez aquele papel fosse uma nova promessa.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App