Elena Moreau
O corredor do hospital cheirava a antisséptico e a pressa. Luzes frias rasgavam o silêncio como navalhas, e cada passo meu ecoava com uma impertinência que me lembrava o quanto eu era pequena diante da violência que havia invadido nossas vidas. Fiquei parada à beira da janela da sala de espera, com as mãos entrelaçadas na frente do corpo, tentando alinhar pensamentos que não paravam de fugir entre si. As vozes distantes — enfermeiros apressados, o bip ritmado de alguma máquina — compunham um pano de fundo hostil para o nó no meu peito.
Quando ouvi a voz de Clóvis ecoando por baixo da porta entreaberta do quarto, uma ponta de gelo cortou a minha garganta. Não deveria estar ali — não deveria espionar — mas a sede de entender, de sentir onde aquilo tudo havia falhado, era mais forte. Por trás da fresta vi seu corpo curvado; a imagem dele ali, derrotado, me doeu como se eu própria tivesse sido ferida.
As palavras dele saíam em pedaços, cada frase uma lâmina: “Eu falhei com el