Aqui dentro, eu era só mais uma.
O sol batia impiedoso na fila, mas ninguém reclamava. A gente aprendia rápido que aqui, dor e calor eram parte do pacote. Em volta, só rostos marcados pelo tempo e pela espera. Mães com os olhos fundos, esposas com olhares duros, namoradas com a alma pendurada no fio da esperança. Todas carregando uma dor que o mundo fingia não ver.
O cheiro era uma mistura sufocante de suor, desespero e cigarro barato. Um cheiro que grudava na pele e na memória. A fila andava devagar, como se o tempo ali dentro fosse diferente, estagnado.
— Documento e cadastro na mão! — gritou um dos agentes, sem sequer levantar o olhar.
Entreguei minha identidade com os dedos suados. O agente me analisou como se eu fosse uma ameaça. Ou pior, como se eu não fosse nada.
— Primeira vez? — perguntou, sem emoção.
Assenti, engolindo seco.
— Vai se acostumando. Isso aqui vira rotina mais rápido do que você pensa.
A frase me bateu como um tapa. Eu não queria que isso virasse rotina.