Matheo Montclair
Quinta-feira, 15 de setembro de 2022
O relógio já passava das nove quando deixei os relatórios sobre a mesa. O dia inteiro na empresa tinha sido sufocante, mas minha mente não estava nos números nem nos contratos. Estava nela. Desde a hora do almoço, não consegui parar de me lembrar da expressão assustada de Isabela quando percebi que ela estava mentindo sobre a comida. A cada vez que fecho os olhos, me vejo segurando a paciência para não sacudi-la até que entendesse que não pode se destruir assim.
 Oscar estacionou em frente ao ateliê. Pela vitrine iluminada, consegui vê-la de costas, conversando com Rebeca. As duas riam baixinho, mas ainda havia sombras no olhar dela. Eu reconhecia aquilo. Reconhecia porque já havia visto nos olhos de quem perdeu tudo.
 Bati na porta com os nós dos dedos. Isabela foi quem abriu. Seus olhos estavam vermelhos, certamente de choro, mas ela me recebeu com um sorriso tímido.
 — Boa noite… — disse baixo.
 — Boa noite, Isabela. — respondi,