Isabela Andrade
  Sexta-feira, 16 de setembro de 2022
O ateliê sempre parecia respirar comigo. As grandes janelas deixavam a claridade da tarde invadir, refletindo nas telas encostadas e nos pedaços de mármore que esperavam por novas formas. Depois do almoço com Matheo, voltei para cá determinada a me afundar no trabalho. O aroma de óleo de linhaça, de madeira lixada e da tinta fresca preenchia o ar, familiar, reconfortante, quase como um abraço silencioso.
 Passei horas com o pincel na mão. Completei o céu de uma tela que retratava o Sena em dias de outono, retoquei uma camada de verniz em um quadro já vendido e depois me dediquei a uma pequena escultura em argila, o rosto de uma mulher de olhos fechados. Talvez fosse minha forma de esculpir a mim mesma — cansada, tentando parecer serena.
 Entre um traço e outro, as lembranças dos meus pais sempre voltavam. Às vezes, bastava o som da chuva escorrendo nos vidros para que eu visse meu pai, de guarda-chuva na mão, entrando no ateliê sorr