— Você bateu a cabeça com muita força, Verena. É natural que esteja imaginando coisas. A polícia já confirmou que não havia ninguém lá, exceto os nossos guardas. Não havia ferimentos de bala. Foi um acidente. Disse papai. Mas o nó se formou na minha garganta, eu sabia que não era verdade, não foi um acidente, eu vi.
As suas palavras eram como punhais cravados em meu coração, tentando apagar as minhas memórias, a minha verdade. Mas ninguém poderia. Mesmo que a minha voz tenha sido silenciada, a minha mente e memória permaneceram intactas.
Eu sei o que vi e... era real!
— Chega, Verena! Respeite a memória da sua mãe. Não a suje com as suas fantasias.
O meu peito apertou. O pensamento de que a minha mãe não estava mais lá, de que eu nunca mais ouviria a sua voz, era uma adaga na minha alma. Mas como eu poderia ignorar o que os meus próprios olhos testemunharam? Estávamos em perigo e o meu pai ainda acreditava que foi um acidente.
Os meus pensamentos retornaram ao momento do acidente, as luzes piscando e o grito da minha mãe ainda ecoando em minhas memórias. A sua imagem, sempre tão vívida, agora desaparecerá no reino das memórias. Eu queria me apegar a ela, preservar cada fragmento de seu amor e riso dentro de mim.
Procurei desesperadamente em meu pai por algum vislumbre de conforto, mas seu olhar refletia apenas uma dureza impenetrável. Eu queria que as suas palavras fossem diferentes, que ele oferecesse conforto ou compreensão, mas eu sabia que esses desejos eram tão etéreos quanto as sombras na parede.
— O médico disse que lhe dará alta em 72 horas se tudo continuar normal. É incrível, mas você não tem nenhuma fratura ou ferimento interno, foram apenas pancadas, temos que esperar a sua evolução. Disse papai, e as minhas lágrimas rolaram livremente.
O meu pai foi embora, deixando-me sozinha neste quarto frio de hospital.
...........
Magnus
Enquanto me acomodava na fria cadeira de couro do meu escritório, o meu olhar estava fixo na adaga afiada que eu usava na mão esquerda.
Atrás de mim estava a grande janela que oferecia uma vista panorâmica da cidade sob o meu controle. Eu era o mestre das ruas, dos cantos mais escuros e sujos do submundo. Mas também um dos homens mais poderosos do lado da lei. Políticos, empresários, homens e mulheres, pessoas poderosas tinham respeito e admiração por mim.
Parecia quase uma ilusão por trás do vidro, um mundo que se estendia aos meus pés. Eu era um dos homens mais poderosos da Itália, dono de quase todos os bancos nacionais e privados e, nas sombras, o maior traficante de drogas da Itália. Ainda assim, senti que tudo isso era insignificante comparado às notícias que recebi dos meus homens.
Enquanto eu pensava, meus dois cães, Titan e Zeus, meus dobermans, leais e fiéis, esperavam pacientemente, eles só precisavam de um estalar de dedos para fazer qualquer um em pedaços.
Meus dedos percorreram a superfície da mesa de mogno.
O recente fracasso dos meus homens pesava na minha mente e me deixava com raiva.
— Senhor, não falharemos da próxima vez. Disse um deles enquanto os quatro homens formavam uma linha reta aguardando o destino que os aguardava.
— Da próxima vez. Repeti suavemente, acariciando o pelo preto e brilhante de Zeus.
— Defina a próxima vez?
— Senhor, não foi fácil, a menina…
— A garota, a maldita garota tem dezoito anos de idade, uma garota que não tem a menor ideia de como é sair para o mundo exterior e, na minha frente, há bandidos treinados. A única coisa que me cerca é gente inútil, inepta e imprestável, que deixaram uma criança escapar.
— Desculpe-nos, senhor…
— Vocês sentem isso, mm, o que exatamente vocês sentem?
Girei a adaga na minha mão. — Sabe, tudo o que vejo nos olhos de vocês é medo e consigo sentir o cheiro do medo que vocês sentem.
— Uma chance, senhor, é tudo o que pedimos, não falharemos desta vez. A minha adaga voa a uma velocidade calculada, cravando-se na testa de um deles, o mais medroso, aquele que faz xixi nas calças só de me ver fechar e abrir os olhos. Os meus cães rosnam prontos para despedaçá-los.
— Shh, calma, essa carne só vai te dar indigestão. Vocês não comem porcarias.
Ele caiu no chão como uma mosca. Fiz um gesto com dois dos meus dedos, o indicador e o médio, Roberto, o mais experiente deles, entendeu rapidamente minha ordem e tirou o punhal da testa do inútil caído no chão e estendeu-o para mim.
Pego a sua camisa e limpo minha adaga com ela, deixando-a brilhante novamente.
— Alguém mais vai abrir a boca?
— Eu mesmo cuidarei dela, senhor. E se eu falhar, darei a minha vida em troca. Gostei da lealdade de Roberto. Ele era leal e honrado.
Olhei para os três que estavam em posição de sentido na minha frente.
— Eu mesmo cuido da situação, e vocês dois podem sair da minha frente, seus bastardos inúteis, e levem essa imundície que está sujando p meu lindo tapete que a minha santa mãe decidiu colocar aqui. Eu disse, acenando com as mãos.
— Roberto, diga a Lucian para vir imediatamente.
— Agora mesmo, senhor. Ele se curvou enquanto caminhava até a porta para abri-la enquanto os outros carregavam o corpo para fora.
Deixei a minha adaga na mesa e, depois de acariciar a cabeça dos meus meninos, levantei-me para ir até a janela.
Poucos minutos depois, os meus meninos resmungam quando a porta se abre. Não preciso me virar para saber quem é. Meu irmão, o meu braço direito, o meu carrasco.
— Lucian, preciso que você faça uma coisa para mim. Eu disse, finalmente me virando para olhá-lo.
— O que você precisa, irmão? Ele respondeu, ainda olhando para os meus cachorros e fazendo-lhe sinais brincalhões, e os meus meninos imediatamente se aproximaram dele para que ele pudesse acariciar as suas costas,
Os planos não saíram como eu queria. Mesmo que eu tivesse cuidado da esposa de Vinicius, isso não era suficiente. Eu sabia que ainda havia um fio solto que precisava ser amarrado.
A filha dele. Ela era a última peça do quebra-cabeça. Eu precisava acabar com ela. A traição do Vinicius tinha sido demais depois de tudo que eu dei a ele, depois de toda a confiança que eu depositei nele, ele foi o meu melhor e maior vendedor, ele ficou rico graças a tudo que eu dei a ele, agora ele me deve tanto dinheiro que ele nem imagina o quanto isso vale, ele se aproveitou do carinho que eu tinha por ele, do apreço, da confiança e isso só se paga com sangue e algo mais, mas não dele, seria demais matá-lo e acabar com o seu sofrimento, eu não queria isso, eu queria vê-lo implorar e se contorcer na própria merda e eu não descansaria até me vingar.
Respirei fundo, tentando me acalmar, mas a raiva borbulhava em minhas veias. Como eu pude ser tão cego? O homem subestimou as minhas intenções, como se o perdão pudesse existir entre nós.
Cada passo que ela dava, cada sorriso que aparecia em seu rosto, agora se tornaria seu pesadelo.
— Não haverá paz para você, Vinicius. Murmurei para mim mesmo.
— Preciso de informações sobre a filha do Vinicius. Quero todas as informações sobre essa garota, até mesmo quantas vezes ela vai ao banheiro, fotos, os horários em que ela sai de casa, com quem ela anda. Tudo, Lucian, e preciso disso até hoje. Exigi, sentindo a tensão crescendo em meu peito.
O meu irmão se aproximou.
— Eu te disse para me dar esse trabalho, Magnus, você achou que eu não conseguiria lidar com aquele maldito Vinicius e aquela maldita garota?
O rosto de Lucian ficou sério.
— Eu jamais duvidaria da sua capacidade, irmão, mas pedi que cuidasse de outra coisa importante. Achei que aqueles inúteis conseguiriam lidar com o trabalho, e eu estava errado. Respondi, sentindo a raiva ferver novamente no meu peito.
— Entendi. O meu irmão assentiu, embora eu tenha visto uma sombra de dúvida cruzar seu rosto. — E o que você quer que eu faça agora?
— Nada, só quero que você obtenha todas as informações possíveis. Suas rotinas, seus amigos, qualquer detalhe que possa ser útil para mim.
Lucian levantou as duas sobrancelhas. — Algum problema, irmão? Perguntei, sentando-me enquanto o olhava.
— O que você vai fazer com a raposinha?
Eu ainda não sabia, mas a única coisa certa era que eu faria Vinicius sofrer.
— Eu mesmo vou cuidar do problema.
— Deixe-nos cuidar dela e do resto. Protestou Lucian.
— Não, preciso de um pouco de diversão na minha vida. Estou um pouco entediado com tanto trabalho.
— Por que você não extravasa o tédio em algumas das suas casas noturnas com aquelas prostitutas maravilhosas que estão morrendo de vontade de ficar de joelhos na sua frente?
Ele passou as mãos pelos cabelos. Nós dois éramos muito parecidos, herdando as mesmas características do nosso desprezível pai. Cabelo castanho escuro um pouco longo, pele branca, estatura alta, olhos castanhos, às vezes nos dizem que parecemos lobos porque a cor de nossas íris muda com a mudança de estação. Mas Lucian era meu eu mais jovem, meu sucessor. Mas com um caráter mais fraco, mas ele aprenderá a fortalecer o seu caráter quando tomar meu lugar e tiver idade suficiente. O caráter é formado com sangue e ferro.
— Você é especialista em complicar sua vida. Ele disse, sorrindo enquanto se afastava em direção à porta.
— Adoro adrenalina, desafios, coisas difíceis. Se tudo fosse tão fácil, qual seria o sentido? coisas fáceis são chatas.
— Não diga isso da Verônica. Ele brincou com o queixo. — Que não há nada de difícil nisso.
— A Verônica só me ajuda a estreitar laços. É sempre bom ter o apoio dos outros.
— Se você diz. Ele abriu a porta.
— Lucian, quero isso hoje.
— Claro, chefe. Ele assentiu.
Ele saiu do meu escritório, olhei para o relógio e agora eu tinha que ir ao banco para uma reunião com o senador Martini.