Verena
Três dias depois eu estava perfeitamente bem e recebi alta do médico. Saí do hospital e o sol bateu nos meus olhos. Entrei no carro e enquanto dirigíamos para casa observei o mundo passar pela janela. Os meus pensamentos estavam apenas na minha mãe. Nunca nos separamos em 18 anos e agora, como posso viver sem ela?
Ao entrar em casa, senti um nó doloroso se formando na minha garganta. Parei, permitindo que o cheiro de casa, diferente do hospital, me envolvesse.
Nana foi a primeira a me cumprimentar, com os braços estendidos em minha direção, o que me fez correr até ela sem hesitar. Agarrei-me ao seu abraço, um abraço que continha todo o amor que só ela poderia oferecer. Senti a sua doçura como um consolo para minha dor, enquanto as minhas lágrimas escorriam incessantemente pelo meu rosto.
— Tudo ficará bem, minha menina. Murmurou Nana, acariciando os meus cabelos com ternura. Ela era o meu conforto nesse mar de dor. Aquele conforto que o meu pai não me deu.
— Tudo ficará bem, querida. Ela sussurrou em meu ouvido. E quando me afastei lentamente dela, vi o meu pai passar por nós com o seu andar habitual, direto para o seu escritório, sem parar. Havia um mar de distância entre nós e isso doía muito. O dia em que ele e eu finalmente nos entenderíamos parecia distante, mas a sua mera presença me dava uma estranha espécie de segurança. Pelo menos eu não estava sozinha, ou assim eu pensava.
Caminhei até o meu quarto com passos lentos. Ao entrar, fechei a porta atrás de mim e fiquei ali, sentindo a dor corroer a minha alma. Não sei como vou conseguir continuar sem a minha mãe. Ela era o meu farol, o meu guia, meu tudo. Agora, só restava um imenso vazio, o eco da sua risada ressoando nas paredes da minha memória. Como você vive sem a pessoa que lhe deu a vida? Como você lida quando o seu mundo desmorona?
Eu chorei, chorei tanto que não sabia quando tinha adormecido. No dia seguinte acordei com uma forte dor de cabeça. Nana entrou para abrir as cortinas do meu quarto e isso me causou ainda mais dor ao lembrar que era a minha mãe quem sempre abria as cortinas do meu quarto e me acordava com um beijo na cabeça.
Nana chegou com um pequeno bolinho na mão e uma vela acesa, e eu comecei a chorar novamente.
— Há cinco dias foi o seu aniversário e eu não pude cantar para você e você também não pôde apagar a sua vela. Então minha menina, faça um pedido, ele se realizará.
Fechei os meus olhos enquanto continuava chorando, eu sabia que pedir para minha mãe voltar a vida era impossível, apenas fechei os meus olhos com muita força e pedi do fundo do meu coração, por vingança, que aqueles que mataram a minha mãe, acabassem do mesmo jeito, que morressem da pior maneira. É isso que eu desejo.
Apaguei a vela e abracei a minha babá enquanto o choro destroçava o meu coração.
Pai? Perguntei.
— Ele não está aqui. Respondeu Nana, e eu apenas assenti.
— Ele saiu muito cedo e você sabe como ele é, você não sabe se ele volta no dia ou na hora.
Concordei novamente, balançando a cabeça. Eu sabia muito bem, o meu pai era como um fantasma, ninguém, ou pelo menos eu não sabia nada sobre a sua vida.
Depois do banho, desci até a cozinha para encontrar Nana e fiquei muito surpresa ao ver as empregadas, os dois jardineiros e alguns seguranças lá, junto com um lindo bolo de chocolate — meu favorito — com uma grande borboleta desenhada no topo e balões.
Os meus olhos lacrimejaram com a surpresa que eles prepararam para mim.
— Feliz aniversário, senhorita Ferragamo. Disse Mauricio, um dos guardas que era o meu guarda-costas e que não me acompanhou naquele dia, o dia do ataque, porque a minha mãe havia pedido que ele fizesse outra coisa. Caso contrário, ele provavelmente não estaria aqui comigo.
— Muito obrigado. Eu disse, e todos entenderam a minha linguagem de sinais. Ou pelo menos as palavras básicas que todos nesta casa usavam para se comunicar comigo.
Eles cantaram parabéns para mim e eu apaguei a vela com mais força ainda, fechando os olhos para pedir com todas as minhas forças aquela vingança que anseio no fundo do meu coração.
Naquele momento, virei-me para a porta e notei os olhares um tanto assustados no rosto de todos. Notei a figura do meu pai na porta olhando para todos e então ele pousou os olhos em mim.
— Verena, venha aqui um momento. Ele disse, virando-se e caminhando rapidamente em direção ao seu escritório.
Obrigada. Eu disse e saí da cozinha para seguir o meu pai.
Ele estava me esperando com a porta aberta, entrei e fixei meus olhos nele, parado ao lado da sua mesa com algo na mão.
— Não tive tempo de te dizer... de te desejar feliz aniversário, eu tinha uma coisa para você. Ele estendeu uma caixa de veludo preto com um elegante laço dourado.
— Feliz aniversário, Verena. Papai finalmente disse, e as minhas lágrimas começaram a rolar novamente.
Obrigada. Eu disse, pegando o presente. Quando abri, havia um lindo colar com um diamante azul em forma de borboleta. Minha cor favorita.
Olhei para ele por longos segundos. Acariciei-o com os dedos e chorei lembrando da mamãe, tudo me lembrava dela. Papai pegou o colar.
Juntei o meu cabelo e ele o colocou em volta do pescoço. — Fica lindo em você, nunca tire, por nada no mundo. Você me promete? Virei-me para olhar para meu pai, os seus olhos fixos nos meus, e então olhei para o colar de borboletas, enquanto a minha mão direita o acariciava.
Eu prometo, pai.
Ele beijou a minha testa e eu congelei. Foi a primeira vez que o meu pai fez algo assim. Engoli em seco e mordi o meu lábio inferior com muita força.
Pai, quero ir ao túmulo da mamãe.
Eu disse a ele. Preciso vê-la, preciso me despedir dela.
O meu pai suspirou profundamente e depois de me olhar por longos segundos, ele assentiu. — Eu te levo. Foi tudo o que ele disse, e uma dor apertou meu peito.
Magnus
Não se passaram nem duas horas e Luciaa entrou no meu escritório no banco Italo, voltando com uma pasta preta. Olhei para cima e ele estava me oferecendo a pasta, com uma centelha de satisfação brilhando em seus olhos.
— Que eficiente. Eu disse, com um pequeno sorriso aparecendo no meu rosto.
— Você sabe com quem está trabalhando. Ele se gabou da sua astúcia, como sempre.
— O que você tem? Perguntei.
— Veja você mesmo.
Peguei a pasta preta em minhas mãos e a abri, revelando uma série cuidadosamente organizada de documentos, fotografias e anotações. Cada página parecia conter uma pista, um detalhe que poderia ser a chave para o avanço do meu plano.
— Aqui estão os seus horários, os lugares que ela frequenta e uma lista dos seus amigos mais próximos. Ela quase sempre estava acompanhada da mãe. Mas, coitada, a mãe dela morreu. Disse ele com falsa indignação e então esboçou um sorriso sinistro.
— Ela saiu do hospital ontem. Incluí algumas fotos recentes de antes do acidente dela. Respondeu Lucian, apontando para uma imagem em particular. Era uma foto da filha de Vinicius, sorrindo despreocupadamente em um evento social e outra em seu jardim.
A minha mente estava trabalhando a todo vapor enquanto eu absorvia a informação.
— Além disso, fiz algumas pesquisas sobre o seu relacionamento com seu pai. Continuou Lucian, gesticulando com um ar de confiança. — Aqui estão algumas notas sobre seu comportamento recente. Ela parecia estar um pouco inquieta.
Eu fiz uma careta. — Inquieta? Porque?
— Não sei. Talvez você esteja começando a questionar a vida que está levando. Isso pode jogar a nosso favor. Ele respondeu, mostrando um toque de entusiasmo na voz.
Pensei no que ele havia dito. Se ela estivesse em conflito, ela poderia ficar vulnerável.
Mas quando comecei a olhar as fotos daquela garotinha, uma por uma, fiquei cativada por tanta graça e beleza: aqueles cachos rebeldes, os seus olhos cinzentos, o seu lindo sorriso. Era uma imagem que irradiava vida, juventude e alegria. Porém, na última foto, os seus olhos não tinham mais o brilho que refletia nas fotos anteriores.
Esse contraste me impressionou.
Eu me senti preso entre o fascínio da sua beleza e o desejo de destruir aquela inocência. Em apagar esse seu sorriso, para que os seus lábios nunca mais sorriam.
As informações de Lucian eram como uma ferramenta para brincar com o seu destino.
— Muda? Olhei para cima e fixei o meu olhar em meu irmão.
— Sim, a desgraçada é muda.
Eu sorri de uma forma maliciosa e sinistra.
— Essa é uma boa informação. Sussurrei, acariciando o meu queixo.
— É melhor eu não perguntar o que você está pensando. Declarou o meu irmão. Ele me conhecia muito bem, conhecia os meus pontos fortes e minhas perversões.
— Você tem um relatório sobre o acidente e a morte da esposa de Vinicius?
Ele assentiu. — A polícia não está investigando nada, Vinicius não apresentou nenhuma queixa. Todos os seus homens morreram naquele dia, apenas a sua filha foi salva.
— O mais fraco sobreviveu, que ironia! Eu sussurrei.
— O que você vai fazer com ela? Ele perguntou, ainda olhando para as fotografias.
— Deixe-nos cuidar dela, eu não vou falhar. Exclamou Lucian.
— Não, eu vou buscá-la. Vinicius vai me pagar até o último centavo com o que ele tem de mais precioso.
O meu irmão assentiu sem refutar minhas palavras.
— Obrigado, Lucian. Você pode ir embora. Você fez um excelente trabalho, como sempre. Eu disse, elogiando a habilidade e a inteligência do meu irmão.
— Se não estou aqui para servi-lo, não sei para que mais estou aqui. Ele respondeu e saiu do meu escritório.
Descansei as minhas costas recostando-me na cadeira. Peguei uma das fotos na pasta e a levantei.
— Verena. Sussurrei, observando-a pegar uma borboleta na mão.
— Então você é muda? Eu sorri. O que eu mais queria nas mulheres era que elas só abrissem a boca para me fazer um boquete delicioso.
Por fim, fechei a pasta e a coloquei sobre a mesa, sentindo-me pronto para dar o próximo passo no meu plano.