capítulo 7

Ele ficou ali, colado a mim, de um jeito estranho. Eu podia muito bem ter virado as costas, corrido atrás do meu chefe e desmentido tudo aquilo que estava acontecendo. Mas não. Fiquei parada. Congelada, olhando para o rosto daquele homem — provavelmente um dos mais bonitos que já vi na vida. Mas nem mesmo aquela beleza quase indecente era suficiente para me fazer desejar estar ali, especialmente depois do que ele fez.

Ele me agarrou e me beijou. À força.

— Desculpa — disse ele, ofegante. — Eu... eu tive que improvisar. Estava encurralado.

Cruzei os braços, ainda tentando processar a cena absurda que acabara de acontecer. Meus olhos fitaram os dele com incredulidade.

— Então isso te dá o direito de arrancar um beijo de uma desconhecida?

— Não! Não, eu sei que errei. Mas, por favor, não me julgue desse jeito...

Antes que eu pudesse retrucar, meu olhar se desviou para a porta do restaurante. Ela estava lá. Alta, elegante, e com uma expressão tão afiada quanto o salto que pisou no meu pé sem nem pedir desculpas. Sim, eu já não gostava dela.

— Ela está voltando — murmurou ele, a voz quase um sussurro aflito. — Meu Deus...

Ele parecia genuinamente assustado. E talvez por isso tenha voltado a me agarrar, como se eu fosse algum tipo de escudo humano. Tentei me desvencilhar, empurrando seu peito com as mãos.

— Você vai continuar com isso? Porque, olha, eu vou chamar a polícia.

— Só finge — implorou ele. — É isso que eu te peço. Apenas... finge que é minha noiva.

Eu pisquei, incrédula. A boca entreaberta. O silêncio entre nós era mais alto que o burburinho do restaurante. Noiva?

— Você só pode estar brincando — sussurrei.

Mas ele não estava.

E pior: uma parte de mim queria saber por quê.

Eu poderia simplesmente dizer que não, que a vida pessoal daquele homem não era problema meu, e que ele que se virasse com aquela loira oxigenada. Mas, convenhamos… depois da vergonha que passei mais cedo, acredito que já estou praticamente demitida. Então, que mal há em brincar um pouco antes de ser dispensada de vez? Afinal, assim que eu atravessar aquela porta, o restaurante onde eu tanto precisava trabalhar vai virar só mais uma lembrança.

Respirei fundo, segurei firme meu orgulho e encarei aquele homem com fogo nos olhos.

— Eu vou te dar o que você quer.

No mesmo instante, o afastei com força, meu coração disparado, a adrenalina pulsando.

— Como você teve coragem de fazer isso comigo? — gritei, alto o suficiente para que metade do restaurante nos ouvisse.

A loira estava a poucos passos de nós, com os olhos arregalados, quase chorando. A encenei como se tudo fosse pessoal, íntimo, real.

— Achei que você fosse fiel a mim! E agora vem no meu trabalho com essa mulher?

A pobre coitada ficou boquiaberta. E foi aí que ele soltou, num tom dramático:

— Amor, eu vou ser pra sempre o seu… Omar.

Ao ouvir aquele nome, até me faltou o ar por um segundo. Ele fez aquilo de propósito. Queria que eu soubesse seu nome — e que interpretasse aquele papel com a maior sinceridade do mundo.

— Pra sempre meu — repeti, como se fosse uma promessa, uma acusação e uma sentença ao mesmo tempo. — Omar, você teve a pachorra de trazer essa mulher no meu trabalho?

— Não fui eu, foi minha tia. Ela não sabe de nós dois. Mas eu disse à moça que estou comprometido, não disse?

Olhei para a loira, que agora parecia uma mistura de confusa, chocada e derrotada. Devo admitir: ver aquela expressão no rosto dela foi quase terapêutico.

— Escuta bem — falei, me aproximando da mulher com um olhar afiado —, eu não quero você nem perto do meu noivo. Vai embora agora, antes que eu te arraste pelos cabelos até a saída. Sai! Agora!

A loira empalideceu. E o pior? Eu falei tão alto que até o cozinheiro lá dos fundos deve ter escutado. Estava frita, claro. Mas não dava mais para voltar atrás.

Ela deu as costas e saiu correndo, como uma criança repreendida.

Fiquei ali, em silêncio. Meus ombros pesados de tensão. Só então tive coragem de olhar para ele. E tudo o que ele conseguiu dizer, ainda com aquele sorriso que misturava culpa e encantamento, foi:

— Me desculpa.

— Você está me devendo.

Sendo assim, com os ombros caídos e os braços pesando ao lado do corpo, caminho de volta para o restaurante, um passo de cada vez, como se estivesse marchando para o próprio fim. Meus olhos não precisam procurar muito para saber: todos ainda estão olhando. Inclusive ele, Alfredo. O dono. O chefe. A fera. Ele está vermelho, com os olhos semicerrados e o maxilar travado. Mas, mesmo irritado como está, sei que ele não vai fazer um escândalo na frente de todo mundo. Não agora.

Eu também não digo nada. Não adianta. O caminho é automático — sei exatamente para onde ir, e sei que ele vai vir atrás de mim. Sei que a bronca está por vir, que a humilhação vai chegar em breve, fria e pontual como sempre. Então, não me resta nenhuma reação além de deixar a desolação me consumir. Caminho como quem já aceitou o castigo. Triste. Frustrada. Me odiando por tudo, mesmo sabendo que, no fundo, não fui eu quem começou com aquela confusão toda.

Eu nem conheço aquele homem. Omar? Um nome bonito demais para alguém tão arrogante. Um daqueles que acha que o mundo gira ao redor da própria vontade. Que todos devem se dobrar ao seu charme, à sua presença, à sua voz rouca e bem calculada. Mas ele não entende… ele não faz ideia do quanto pode destruir vidas. E pior: o faz com um meio sorriso no rosto, como se não custasse nada.

Eu não queria cobrar dívida nenhuma. Nem sequer queria aquele papel. E nem vou cobrar. Não vale a pena. Por bem, decido ali mesmo: nunca mais olho no rosto daquele homem. Nunca mais toco os lábios dele, mesmo que a lembrança ainda queime na minha boca, como um beijo fantasma.

Mesmo que o perfume dele ainda esteja grudado na minha pele, me inebriando, me confundindo, mexendo com um coração que eu jurava já ter blindado há tempos.

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