— Aonde você pensa que está indo?
A voz do Sr. Alfredo cortou o ar como uma faca. É claro que ele viria atrás de mim. Eu já esperava. Ele sempre vinha. Era o dono do restaurante mais caro desse shopping de luxo, onde gente com bolsas de grife entrava e saía como se o mundo fosse deles — e talvez fosse. Mas naquele momento, eu já tinha sido humilhada o suficiente.
Ainda sentia o gosto daquele beijo forçado, a vergonha de ter sido puxada para fora por um estranho arrogante de terno bem cortado, que provavelmente nem sabia o que significava lutar por um salário mínimo. E eu? Eu, que só queria terminar meu turno em paz, acabei no meio de uma cena patética, obrigada a me defender com um tapa que ainda ardia mais em mim do que nele. Agora, estava prestes a perder meu emprego por algo que nem sequer comecei.
— Não precisa nem se dar o trabalho de berrar, Sr. Alfredo — respondi, com os ombros caídos e a dignidade quase arrastando pelo chão. — Estou indo ao armário pegar minhas coisas. Sei mui