O ronco constante dos motores do avião era quase reconfortante. Quase. Me ajudava a manter o foco nos documentos que eu fingia ler pela terceira vez, embora cada palavra parecesse se dissolver diante dos meus olhos. Eu ainda estava com a cabeça em tudo que aconteceu nos dias passados.
No beijo.
Nos beijos.
Matheus.
E agora aqui estávamos. A caminho de uma viagem de negócios, sentados no mesmo avião, com o silêncio pairando entre nós como uma camada de vidro. Eu queria quebrá-la, por mais que me ferisse, queria que ele estendesse a mão para afastar meu medo de altura, e que deixássemos os papéis de lado para ver um filme juntos.
Mas não éramos um casal, não fazíamos esse tipo de coisa, era uma viagem a trabalho que já parecia ter começado estressante.
Ele se sentou na fileira de atrás, , que estava desocupada, para resolver algumas coisas do trabalho, foi o que disse. Eu fiquei perto da janela, observando as nuvens se acumularem sob nós como um mar de algodão. Tentei controlar o apert