A sala de reuniões da sede corporativa parecia mais gelada do que eu lembrava. Talvez fosse o ar-condicionado forte demais. Ou talvez fosse o silêncio incômodo das seis pessoas que me esperavam sentadas à mesa de vidro, todas com seus olhos atentos e semblantes impassíveis. Ao centro, uma câmera já ligada apontava para a única cadeira vazia: a minha.
Respirei fundo antes de me sentar.
— Sra. Julia Nunes — começou uma das advogadas da empresa, sem levantar os olhos do tablet —, este é o registro oficial do seu depoimento voluntário para o comitê interno de ética e compliance da NovaCorp. Você está ciente de que esta gravação poderá ser utilizada como parte do processo disciplinar e, se necessário, encaminhada para órgãos externos?
— Estou — respondi, firme, tentando manter a voz estável.
— Deseja a presença de um representante legal?
— Não. Eu mesma falarei.
Uma leve tensão percorreu a sala. O homem do outro lado da mesa — o presidente interino do comitê — entrelaçou os dedos sobre os