O cheiro doce de baunilha e morango pairava no ar, contrastando com a tensão que se acumulava entre os dois como uma tempestade prestes a romper. O ambiente da sorveteria — parecia ter saído de um cartão-postal — um cenário encantador demais para abrigar tanta dor.
Crianças riam ao fundo, lambendo casquinhas coloridas, alheias ao drama que se desenrolava a poucos metros. Uma delas deixou cair uma bola de sorvete no chão, e o som abafado da queda se misturou ao tilintar de colheres e ao burburinho suave de conversas felizes. Era como se o mundo insistisse em seguir leve, mesmo quando corações pesavam toneladas.
A luz do fim da manhã atravessava o vidro da vitrine, projetando sombras longas e distorcidas entre eles, como se o tempo estivesse tentando arrastar os segredos para fora do passado. Os reflexos dançavam sobre o chão de ladrilhos, criando formas que pareciam quase humanas — espectros de lembranças que se recusavam a desaparecer.
Vitor não desviou o olhar. Seus dedos apertavam l