6. De sonho a pesadelo

Assim que finalizamos tudo, seguimos até a saída do shopping. Já era por volta de 20h da noite, então parei me despedindo.

— Obrigada por hoje, e pelos presentes, você tem sido um ótimo amigo. 

— Disponha, mon doux Miel, vamos? 

— Eu vou por esse lado, vou pegar o metrô. 

— Nada disso, eu te levo. Vamos!

Henry me conduziu até um BMW que era alugado. Imaginei a fortuna que ele não pagava apenas no veículo. Sentei-me timidamente, evitando até respirar para não estragar o carro.

— Você parece tensa, relaxa… — ele falou rindo, enquanto dirigia. 

— Para onde estamos indo? 

— São Conrado, mas se for muito longe da sua casa, eu… 

— Moro no Leblon, é tranquilo.

Sorri agradecida e seguimos em silêncio boa parte do tempo, até que ele puxou assunto.

— Eu odeio shopping. Confesso que o convite não me agradou muito, mas até que foi divertido, você é uma boa companhia. 

— Ai, meu Deus, desculpa por te chamar, é que eu… 

— Não precisa se justificar, estou elogiando o passeio, oras… Eu gostei, de verdade. 

— Eu também gostei, nem sei como te agradecer. 

— Eu sei como…

Estacionamos na porta da minha casa e então ele se inclinou na minha direção, fazendo meu coração ameaçar saltar pela boca.

— Que tal um beijo? 

— Be-Beijo? Eu… É… Nunca beijei ninguém.

Henry se afastou surpreso.

— Nunca?

Permaneci apenas olhando-o, absolutamente nervosa. Então ele passou a mão pelo meu rosto.

— Calma, é simples, pode deixar que te mostro…

Quanto mais próximo Henry ficava de mim, mais desesperada eu ficava, então apenas fechei os olhos, sentindo o corpo inteiro arrepiar quando os lábios dele se encontraram com os meus. Lentamente abri a boca e a língua dele passeou sobre a minha, então segui no mesmo ritmo, lentamente.

Quando o beijo chegou ao fim, ele sorriu, selando um último beijo em meus lábios e se despediu.

— Te vejo amanhã.

Desci do carro atônita, abraçada às minhas sacolas, ainda sem acreditar no que havia acontecido, e entrei em casa com um sorriso de orelha a orelha.

— Eu estava mesmo te esperando… — Minha madrasta, que estava sentada no sofá, falou sem sequer me olhar nos olhos. — Eu, por quê?

Ela ergueu a cabeça e arregalou os olhos.

— O que significa isso? 

— Isso o quê? 

— Essas roupas, está toda maquiada, cheia de sacolas… Então foi isso que você fez mexendo nas minhas coisas, sua pilantra?! Me roubou para gastar por aí? 

— Não, eu não…

Roberta se levantou de uma vez, puxando as sacolas das minhas mãos, e começou a espalhar as minhas roupas.

— Eu já sabia que você tem o mesmo sangue sujo da sua mãe, mas realmente não esperava que chegaria a tanto! 

— Não fala da minha mãe, sua cobra! — berrei, nervosa. — Eu não te roubei, comprei essas coisas com o meu dinheiro, me devolve! 

— Dinheiro? Que dinheiro? Então fica se vitimizando para o tonto do seu pai, fingindo que está estudando para bater perna e gastar por aí? 

— Você gasta muito mais que eu, quer escolher até as roupas que eu uso, estou farta dessa palhaçada!

A bruxa soltou uma risadinha sem humor e se aproximou de mim com uma expressão feroz.

— Na minha casa, você segue as minhas regras! — falou, me acertando um tapa no rosto. 

— Essa casa era da minha mãe, sua aproveitadora, eu também tenho direitos aqui… — respondi, sendo acertada por outro tapa. 

— Eu vou te ensinar a me respeitar e nunca mais mexer nas minhas coisas! 

— Eu só peguei um xampu emprestado! 

— Pois agora não vai sequer tocar na porta do meu quarto!

A louca estava com um cinto do meu pai a postos em cima do sofá, e o pegou, vindo na minha direção.

— Eu não sou mais aquela menina que você maltratava em silêncio, se você encostar em mim terá revide! — Avisei, decidida a arrancar os cabelos dela, porém me curvei logo na primeira cintada que acertou a minha cintura.

Quando tentei reagir, a segunda me atingiu no braço, que usei para me proteger enquanto tentava me aproximar dela. Quando finalmente consegui segurar o cinto, a agarrei pelos cabelos, arranhando-a e socando o que fosse possível. Então meu pai chegou, me tirando de cima dela.

— Que diabos está acontecendo aqui? — Ele berrou, olhando de uma para a outra, incrédulo. 

— Essa selvagem me atacou, apenas porque eu estava tentando chamar a atenção dela! 

— Chamar minha atenção? Ela me bateu com o seu cinto! 

— A Melany não é nenhuma criança que precisa de corretivo, Roberta, o que você pensa que está fazendo? 

— A sua filhinha mimada me roubou! 

— Mentira! — gritei. 

— Olha só quantas sacolas! Aqui tem roupas de loja de luxo… Você por acaso deu dinheiro para ela? 

— Não, não dei. — Meu pai diminuiu o tom. 

— Foi um presente, papai, um amigo me deu de presente. 

— Oh… Presente de amigo… — Ela riu batendo palmas. — Mas que amigo generoso, até imagino o que você deu para ele em troca! 

— Veja bem como fala de mim, sua cretina! — berrei, então meu pai interveio. 

— Que amigo é esse? Por que te deu essas coisas? 

— Não tem amigo nenhum, Agnaldo, ela roubou uma das minhas jóias mais caras, a que você me deu no nosso aniversário de casamento! 

— É mentira! Eu não mexi nas suas jóias, já disse que só peguei emprestado um xampu!

A bruxa fingiu que estava chorando. Tentei recolher as minhas roupas, quando meu pai me repreendeu.

— Deixe essas roupas aí… 

— Mas, pai, eu… 

— Enquanto eu não souber de onde vieram, você não fica com nenhuma delas. 

— Eu já disse que foi um presente! Algumas eu mesma comprei, usei o dinheiro da poupança, mas juro que vou repor, estou procurando um emprego… Eu… 

— E para que precisava mexer nas coisas da sua madrasta? 

— Eu já disse… — falei chorando, sem acreditar que ele estava acreditando nela. — Eu só peguei um xampu. 

— Até mesmo as minhas maquiagens estavam fora do lugar… Olha para o rosto dela! Veja se não foi ela! 

— Eu comprei maquiagens, me arrumei assim no shopping… Pai, por favor… 

— Vai para o seu quarto, e tire também essa roupa que está usando e me entregue aqui.

Me retirei chorando dolorosamente. Acho que nunca senti tanto ódio como naquele momento, pois não conseguia entender como ele podia preferir acreditar nela do que em mim. Então o dia que se iniciou como um sonho, virou um verdadeiro pesadelo, pois agora eu não tinha sequer as minhas roupas e não fazia ideia de como ir na festa do Henry.

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