Mundo de ficçãoIniciar sessão~~ Henry narrando ~~
Voltei para casa depois de deixar Melany com um tremendo peso na consciência. Eu sabia que tinha ido longe demais, que ela criaria expectativas e que não merecia o que eu estava fazendo.
Cheguei na faculdade na manhã seguinte e passei pela sala dela, mas não a vi. Eu precisava inventar uma desculpa coerente para finalizar o que havia acontecido, mas sequer sabia como.
— E aí, Francês… — Leonardo, um amigo, se aproximou. — Como foi o passeio com a esquisita ontem?
— Foi tranquilo — falei sem jeito. — Vocês deveriam parar de falar dela assim.
— Qualé, já está apaixonado? — Um outro amigo zombou.
Revirei os olhos.
— Já paguei a aposta, agora deixem de gracinha. A menina já tem uma vida sofrida o suficiente.
— Pagou quando que não vi? O combinado era ficar com ela na frente da faculdade toda, ou na sua festa, na frente de todo mundo! — Leonardo falou, gargalhando.
— Está louco? — falei rindo. — Fiquei com ela, foi esse o combinado e já é o suficiente.
— Quem nos garante que você está falando a verdade?
— Eu gravei…
Peguei as imagens da câmera que havia no meu carro e mostrei a gravação do beijo.
— Ai, Henry, nunca beijei ninguém! — Um deles debochou, imitando-a. — Rolou uma batida de dentes, não rolou?
Os meninos gargalharam debochando da situação, mas eu já não conseguia achar engraçado, na verdade estava extremamente incomodado.
A verdade é que eu havia perdido uma aposta de futebol e quem perdesse teria que ficar com a esquisita. Era assim que a chamávamos. Quando a busquei na biblioteca, eu já tinha a intenção de atraí-la, mas conforme a conheci melhor, as coisas foram mudando, pois fiquei penalizado.
— E aí, meninos… — Larissa, uma das nossas colegas de turma, me abraçou. — Parabéns, lindo, desejo tudo de melhor na sua vida.
— Merci, ma chère.
Eu já havia ficado com ela algumas vezes, mas terminei nossa história quando soube que estava apaixonada. Eu voltaria para a França no ano seguinte, assim que me formasse, e não estava a fim de passar por despedidas amorosas.
— Sinto muito, Lari, mas você perdeu, pode ir soltando o Francês — Leonardo sorriu com sarcasmo.
— Do que você está falando? — Ela o olhou um pouco séria.
— O Henry está apaixonado, olha só…
O desgraçado mostrou o vídeo e Larissa me olhou incrédula.
— Mas que merda, Henry, você ficou mesmo com essa horrorosa? Nossa…
— Sem ciúme, ma belle — brinquei, ainda abraçado com ela.
— Ridículo!
Ela bufou se afastando, enquanto nós ríamos feito idiotas.
A manhã foi chegando ao fim e não vi Melany em nenhum lugar. Não a encontrei na sala dela, nem na biblioteca e me perguntava o que havia acontecido, pois era uma aluna muito assídua.
Voltei para casa preocupado, imaginando que poderia ter relação com o nosso beijo. Cheguei a pensar que ela poderia ter ido para a faculdade e a história da aposta ter chegado ao seu ouvido. Senti um calafrio só de imaginar a Melany sofrendo novamente, e dessa vez por minha causa.
Lembrei da forma como ela estava feliz escolhendo as roupas, de como ficou bonita quando se arrumou, e deixei escapar um sorriso. Se eu pudesse ajudá-la a se sentir melhor, talvez a doux Miel pudesse começar a levar uma vida normal, ter amigos, conhecer um cara legal.
Chegou a hora da festa e o pessoal foi começando a chegar no meu apartamento. Já havia se passado ao menos uma hora e nada dela aparecer, e quanto mais eu pensava em possibilidades, mais meu coração ficava apertado.
— Que carinha é essa, Henry? Hoje é seu dia, vamos curtir! — Larissa sentou sobre o meu colo, me roubando um beijo.
Então a campainha tocou e a empurrei involuntariamente, com medo de que fosse a Melany e que ela visse.
— Pardon, belle, vou ver quem está chamando.
Abri a porta ansioso e me espantei ao ver a Melany de cabeça baixa, os braços ao redor do corpo se abraçando e usando as roupas estranhas que costumava vestir, com o cabelo preso num coque.
— Salut, doux Miel… É… Achei que não vinha… — falei observando-a e notei seus olhos inchados. — Você está bem?
— Eu não vou entrar, só vim te dar os parabéns e entregar isso… — Ela puxou uma caixinha. — É simples, mas é de coração, para que você sempre esteja protegido, por onde quer que vá.
Abri, vendo um lindo escapulário, até parecia ser realmente de ouro e me espantei.
— É lindo, obrigado… — falei abraçando-a.
Melany me abraçou com força, como se precisasse de um abrigo. Então disse com a voz falhando, pois já havia começado a chorar.
— Era da minha mãe, estou te dando de todo o coração, como uma forma de gratidão pelo carinho que teve comigo.
A olhei chocado e gaguejei.
— Mas Mel… Da sua mãe? Não posso aceitar, não precisa…
— Por favor? Eu queria te dar um presente, mas não tinha como, eu…
— Melzinha… — falei, puxando-a de volta para os meus braços. — Você não parece bem. O que está acontecendo?
Foi aí que ela desabafou e me contou tudo que a demônia da madrasta havia feito, e como se não bastasse tirarem as roupas dela, ainda a estavam acusando de roubo.
— Não fica assim, vamos entrar?
— Não, olhá só para mim… Não quero te incomodar, só vim dar os parabéns e já vou indo.
— Não vou permitir que você vá assim — falei segurando-a. — Vamos entrar.
No momento que a puxei para dentro, o apartamento ficou silencioso, exceto pelos murmúrios e risadinhas que ouvi.
— Pessoal, a Melany não está bem e se for para ficarem de piadinhas e conversa fiada, vou pedir por gentileza que se retirem.
De pronto todos se calaram, então passei por entre os demais, levando-a até a cozinha e a sentei na mesa, pegando um copo de água.
— Se acalma, quer comer alguma coisa?
Ela apenas negou com a cabeça. Então Leonardo se aproximou.
— O que está rolando?
Expliquei vagamente a situação e o puxei num canto.
— Não quero gracinhas, ouviu bem?
— Não… De boa… Eu não imaginava que as coisas fossem tão sérias assim…
— Então avisa os outros, porque a Mel vai ficar na festa e se eu ouvir uma única risadinha ou comentário que possa magoá-la, vou fazer a pessoa voar por aquela janela!
Leonardo soltou uma risadinha.
— Calma, ninguém vai mexer com a sua amada, vou falar com os outros.
Pude jurar que a Melany escutou isso, pois nos olhou e deixou escapar um sorriso. Às vezes eu desejava enforcar o Leonardo, mas ia deixar para mais tarde. Naquele momento eu só queria que ela ficasse bem.







