7. A festa

~~ Henry narrando ~~ 

Voltei para casa depois de deixar Melany com um tremendo peso na consciência. Eu sabia que tinha ido longe demais, que ela criaria expectativas e que não merecia o que eu estava fazendo.

Cheguei na faculdade na manhã seguinte e passei pela sala dela, mas não a vi. Eu precisava inventar uma desculpa coerente para finalizar o que havia acontecido, mas sequer sabia como.

— E aí, Francês… — Leonardo, um amigo, se aproximou. — Como foi o passeio com a esquisita ontem? 

— Foi tranquilo — falei sem jeito. — Vocês deveriam parar de falar dela assim. 

— Qualé, já está apaixonado? — Um outro amigo zombou. 

Revirei os olhos. 

— Já paguei a aposta, agora deixem de gracinha. A menina já tem uma vida sofrida o suficiente. 

— Pagou quando que não vi? O combinado era ficar com ela na frente da faculdade toda, ou na sua festa, na frente de todo mundo! — Leonardo falou, gargalhando. 

— Está louco? — falei rindo. — Fiquei com ela, foi esse o combinado e já é o suficiente. 

— Quem nos garante que você está falando a verdade? 

— Eu gravei…

Peguei as imagens da câmera que havia no meu carro e mostrei a gravação do beijo.

— Ai, Henry, nunca beijei ninguém! — Um deles debochou, imitando-a. — Rolou uma batida de dentes, não rolou?

Os meninos gargalharam debochando da situação, mas eu já não conseguia achar engraçado, na verdade estava extremamente incomodado.

A verdade é que eu havia perdido uma aposta de futebol e quem perdesse teria que ficar com a esquisita. Era assim que a chamávamos. Quando a busquei na biblioteca, eu já tinha a intenção de atraí-la, mas conforme a conheci melhor, as coisas foram mudando, pois fiquei penalizado.

— E aí, meninos… — Larissa, uma das nossas colegas de turma, me abraçou. — Parabéns, lindo, desejo tudo de melhor na sua vida. 

Merci, ma chère.

Eu já havia ficado com ela algumas vezes, mas terminei nossa história quando soube que estava apaixonada. Eu voltaria para a França no ano seguinte, assim que me formasse, e não estava a fim de passar por despedidas amorosas.

— Sinto muito, Lari, mas você perdeu, pode ir soltando o Francês — Leonardo sorriu com sarcasmo. 

— Do que você está falando? — Ela o olhou um pouco séria. 

— O Henry está apaixonado, olha só…

O desgraçado mostrou o vídeo e Larissa me olhou incrédula.

— Mas que merda, Henry, você ficou mesmo com essa horrorosa? Nossa… 

— Sem ciúme, ma belle — brinquei, ainda abraçado com ela. 

— Ridículo!

Ela bufou se afastando, enquanto nós ríamos feito idiotas.

A manhã foi chegando ao fim e não vi Melany em nenhum lugar. Não a encontrei na sala dela, nem na biblioteca e me perguntava o que havia acontecido, pois era uma aluna muito assídua.

Voltei para casa preocupado, imaginando que poderia ter relação com o nosso beijo. Cheguei a pensar que ela poderia ter ido para a faculdade e a história da aposta ter chegado ao seu ouvido. Senti um calafrio só de imaginar a Melany sofrendo novamente, e dessa vez por minha causa.

Lembrei da forma como ela estava feliz escolhendo as roupas, de como ficou bonita quando se arrumou, e deixei escapar um sorriso. Se eu pudesse ajudá-la a se sentir melhor, talvez a doux Miel pudesse começar a levar uma vida normal, ter amigos, conhecer um cara legal.

Chegou a hora da festa e o pessoal foi começando a chegar no meu apartamento. Já havia se passado ao menos uma hora e nada dela aparecer, e quanto mais eu pensava em possibilidades, mais meu coração ficava apertado.

— Que carinha é essa, Henry? Hoje é seu dia, vamos curtir! — Larissa sentou sobre o meu colo, me roubando um beijo.

Então a campainha tocou e a empurrei involuntariamente, com medo de que fosse a Melany e que ela visse.

Pardon, belle, vou ver quem está chamando.

Abri a porta ansioso e me espantei ao ver a Melany de cabeça baixa, os braços ao redor do corpo se abraçando e usando as roupas estranhas que costumava vestir, com o cabelo preso num coque.

Salut, doux Miel… É… Achei que não vinha… — falei observando-a e notei seus olhos inchados. — Você está bem? 

— Eu não vou entrar, só vim te dar os parabéns e entregar isso… — Ela puxou uma caixinha. — É simples, mas é de coração, para que você sempre esteja protegido, por onde quer que vá.

Abri, vendo um lindo escapulário, até parecia ser realmente de ouro e me espantei.

— É lindo, obrigado… — falei abraçando-a.

Melany me abraçou com força, como se precisasse de um abrigo. Então disse com a voz falhando, pois já havia começado a chorar.

— Era da minha mãe, estou te dando de todo o coração, como uma forma de gratidão pelo carinho que teve comigo.

A olhei chocado e gaguejei.

— Mas Mel… Da sua mãe? Não posso aceitar, não precisa… 

— Por favor? Eu queria te dar um presente, mas não tinha como, eu… 

— Melzinha… — falei, puxando-a de volta para os meus braços. — Você não parece bem. O que está acontecendo?

Foi aí que ela desabafou e me contou tudo que a demônia da madrasta havia feito, e como se não bastasse tirarem as roupas dela, ainda a estavam acusando de roubo.

— Não fica assim, vamos entrar? 

— Não, olhá só para mim… Não quero te incomodar, só vim dar os parabéns e já vou indo. 

— Não vou permitir que você vá assim — falei segurando-a. — Vamos entrar.

No momento que a puxei para dentro, o apartamento ficou silencioso, exceto pelos murmúrios e risadinhas que ouvi.

— Pessoal, a Melany não está bem e se for para ficarem de piadinhas e conversa fiada, vou pedir por gentileza que se retirem.

De pronto todos se calaram, então passei por entre os demais, levando-a até a cozinha e a sentei na mesa, pegando um copo de água.

— Se acalma, quer comer alguma coisa?

Ela apenas negou com a cabeça. Então Leonardo se aproximou.

— O que está rolando?

Expliquei vagamente a situação e o puxei num canto.

— Não quero gracinhas, ouviu bem? 

— Não… De boa… Eu não imaginava que as coisas fossem tão sérias assim… 

— Então avisa os outros, porque a Mel vai ficar na festa e se eu ouvir uma única risadinha ou comentário que possa magoá-la, vou fazer a pessoa voar por aquela janela!

Leonardo soltou uma risadinha.

— Calma, ninguém vai mexer com a sua amada, vou falar com os outros.

Pude jurar que a Melany escutou isso, pois nos olhou e deixou escapar um sorriso. Às vezes eu desejava enforcar o Leonardo, mas ia deixar para mais tarde. Naquele momento eu só queria que ela ficasse bem.

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