8. Quarto vago

~~ Henry narrando ~~ 

Após um tempo consegui convencê-la a comer um pouco, porém do jeito que estava sentada na cadeira, ela permaneceu. Não falou com mais ninguém, não tentou se divertir, sequer sorria.

— Henry… — Larissa se aproximou já nitidamente embriagada. — Vamos dançar… Você podia me dar um pouquinho de atenção…

Ela me agarrou, beijando o meu pescoço, tentando alcançar a minha boca em seguida. Notei que Melany desviou o olhar, mantendo a cabeça baixa.

— Agora não, Lari… — Me esquivei suavemente e ela me lançou um olhar fulminante. — Mas que droga! Para que me chamou, então, se ia ficar socado aí com essa horrorosa! 

— Quer parar com isso? — falei, puxando-a para afastá-la. 

— É a verdade! — Larissa berrou com a voz embolada. — O Henry não gosta de você, ele só se aproximou por… 

— Cala a boca, Larissa! — aumentei o tom de voz, angustiado. — Leonardo, tira ela daqui! Acabou a festa, pessoal, todos podem ir…

Leonardo saiu arrastando-a e me ajudou a dispersar os demais, explicando vagamente a situação, e em pouco tempo meu apartamento estava vazio.

Busquei o olhar de Melany, que estava de cabeça baixa, chorando silenciosamente, e senti o coração parar no peito.

— Me desculpa por isso — falei sem jeito. 

— O que ela ia dizer? Você se aproximou de mim por quê?

Me calei por um tempo. Eu não podia falar a verdade, ia doer muito mais, então menti.

— Ela acha que tenho pena de você, é isso…

A vi suspirando, ainda sem me olhar diretamente.

— Eu já imaginava. 

— Bom, no início era, fiquei com muita dó quando a moça virou o leite quente em você e depois quando te vi daquele jeito, mas depois… 

— Depois o quê? Soube da merda de vida que tenho e a pena aumentou? 

— Não, depois eu te conheci e gostei de você… 

Pior que eu estava sendo sincero. Ela era uma gracinha de pessoa, e sempre que a via eu sentia o desejo de protegê-la. 

— Por que você me beijou?

Por essa pergunta eu não esperava, e muito menos sabia como responder. Afinal, eu não poderia falar a verdade e muito menos deveria mentir que estava apaixonado, mas diante do medo de magoá-la, acabei optando pela segunda opção.

— Já disse, gostei de você.

Ela não esboçou qualquer reação. Eu tinha certeza de que não estava acreditando e fiquei paralisado, sem saber como agir.

— Eu já vou, tá? Obrigada pela força.

Uma vez de pé, ela ameaçou me dar as costas, então a puxei pelo braço.

— Mel, calma… — falei, virando-a de frente para mim.

As lágrimas banhavam o rosto dela, então removi o seu óculos e as enxuguei suavemente, observando-a atentamente. Melany não era tão feia quanto parecia. Seus traços eram delicados, os lábios rosados desenhavam um coração e os olhinhos expressivos se escondiam por trás do óculos que mais parecia uma lupa.

Naquele momento não sei o que me deu, meu coração apertou no peito e senti o desejo crescente de abraçá-la. Então a acolhi em meus braços, acariciando os seus cabelos, e assim permanecemos até que ela se acalmasse.

Melany narrando

Eu já imaginava que Henry me ajudava tanto por piedade, mas ouvir isso com todas as letras realmente doeu. No fundo, no fundo, tudo que eu queria era que meu conto de fadas fosse real, que ele realmente gostasse de mim pelo que eu era e me fizesse feliz.

Henry já havia acabado com a festa por minha causa, tudo que consegui foi arruinar o aniversário dele, mas confesso que vê-lo me defendendo e ficando ao meu lado aqueceu meu coração. Porém, eu não queria um relacionamento por pena, mesmo que fosse uma amizade. Então me levantei para sair, porém me surpreendi quando ele me segurou e, após enxugar as minhas lágrimas, me manteve em seus braços, me fazendo esquecer todos os meus problemas.

— Obrigada por esse abraço… — falei praticamente gemendo, ainda com a face enterrada em seu peitoral, sentindo seu cheiro inebriante.

Henry apertou um pouco mais o abraço, e foi nesse momento que senti dor no local onde havia levado uma cintada e gemi.

— O que houve? — Ele me olhou preocupado e se afastou lentamente. 

— Eu apanhei ontem, ainda dói.

— Não acredito…

Ergui a blusa, mostrando a marca na cintura onde a fivela do cinto havia batido, e senti todo meu corpo arrepiar quando Henry passou a mão, me acariciando. Mostrei também as marcas nos braços, então ele se chocou.

— Você não deveria ficar naquela casa, isso já passou de todos os limites. 

— E o que eu poderia fazer? Não tenho para onde ir, não consigo um emprego porque as pessoas me tratam como se eu fosse… 

— Xiiiu… — Ele calou a minha boca com o indicador. — Vou te ajudar, mas… Mel… Sobre o beijo de ontem… Bom…

O olhei ainda confusa, então ele respirou profundamente, antes de me olhar nos olhos.

— Não podemos ficar juntos de verdade, digo… Você é uma mulher fantástica, mas… 

— Mas sou feia demais para você. Nem precisa dizer, já estou ciente. 

— Não é isso! Eu vou embora para a França no próximo ano, e não quero me envolver com ninguém, não busco relacionamentos sérios e não quero te iludir.

Meu coração apertou, mas eu entendia de certa forma. O problema é que eu já estava iludida.

— Por que não me leva para a França? — Falei em tom de brincadeira e então ri. — Tudo bem, eu te entendo, não se preocupe.

Henry se calou. Era óbvio que ele não queria e não tinha porque me levar, e também era óbvio que eu estava brincando, mas a expressão dele mudou de tal forma, que fiquei sem jeito.

— Estou brincando, calma — lembrei, ainda observando-o. 

— Talvez não seja uma má ideia. Quando você se formar, se quiser ir, pode contar comigo.

Sorri sem levar a sério.

— Enquanto isso, se você quiser, posso te deixar ficar aqui, até que consiga um emprego e um lugar melhor para ficar. 

— O quê? Eu, morando aqui, com você? 

— Sim, tenho um quarto vago.

Levei a mão na boca em choque, enquanto o olhava atônita.

— Vo-Você está falando sério? Consegue fazer isso por mim? Eu prometo que vou tentar resolver tudo o mais rápido possível, prometo… É sério?

Ele sorriu, assentindo, e não resisti, pulando nos braços dele.

— Obrigada, Henry, obrigada!

E foi assim que dei o segundo passo rumo ao abismo.

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