Capítulo 06

Os olhos de safira do garoto cravaram-se nos de Lucy, tão próximos que ela podia sentir o calor de sua respiração. Seus corações batiam acelerados, o ar carregado de tensão. De repente, Lucy recuou, empurrando-o com força. Ele a segurou novamente, e os dois tropeçaram, caindo na grama úmida. Seus olhos se encontraram outra vez, e por um instante, Lucy sentiu o corpo estremecer. O garoto aproximou o rosto, como se fosse beijá-la, e o colar de meia-lua em seu pescoço pulsou, quente contra a pele.

— O que tá pensando que tá fazendo? — gritou Lucy, tentando se soltar.

— Nada! Só tentando te impedir de fazer algo idiota! — retrucou ele, levantando-se, confuso e irritado ao mesmo tempo.

— Me deixa! — Lucy se levantou, limpando a grama da calça, e caminhou em direção à floresta que cercava o colégio.

Ele agarrou seu braço, firme, mas sem machucar.

— Você vai se perder! — disse, a voz carregada de frustração. — Essa floresta não é uma cidade grande. Os animais não querem saber se você tem dinheiro ou não!

— E o que te importa? — retrucou Lucy, puxando o braço, o colar vibrando com mais força.

— Não posso te ver se suicidando e não fazer nada. Seria... antiético! — Ele bufou, cruzando os braços.

— Então finge que não viu! — disse Lucy, a raiva crescendo. Ela queria estar o mais longe possível daquele colégio e de seus olhares hostis.

Ele suspirou, suavizando o tom.

— É melhor voltar. Seu motorista deve chegar em poucas horas. Não se arrisca.

— Não vou voltar — insistiu Lucy, apontando para o castelo que era o colégio. — As pessoas me odeiam lá dentro.

O garoto riu, não de deboche, mas da expressão dela, quase infantil em sua indignação.

— Ninguém vai te fazer mal. Não fisicamente, pelo menos.

— Ah, que animador! — disse Lucy, irônica. — Então tá, vou voltar correndo pra um lugar onde ninguém age como gente civilizada.

Ele riu novamente, o que a irritou ainda mais.

— Por que tá falando comigo? — perguntou ela. — Até onde sei, todos estão proibidos de se aproximar de mim.

— Nunca fui de seguir regras — disse ele, dando de ombros, com um meio sorriso. — Por que começaria agora?

Lucy cruzou os braços, notando um brilho de hesitação nos olhos dele.

— Mas você se afastou quando soube que sou uma Sales.

Ele mordeu o lábio, como se estivesse em um beco sem saída. Seus olhos de safira escureceram por um momento.

— Fiquei surpreso — admitiu, a voz mais baixa. — Não esperava... uma Sales.

— Por que ser uma Sales é um problema? — perguntou Lucy, a voz tremendo, quase chorosa. O colar pulsou, e uma visão fugaz a atingiu: um círculo de pessoas ao redor de uma fogueira, gritando palavras que ela não entendia. Ela piscou, atordoada, a imagem sumindo.

Ele hesitou, como se quisesse dizer algo para confortá-la, mas não encontrou as palavras.

— Não devia tá falando com você — disse, por fim, o tom firme, mas com um toque de relutância. — Algumas regras... a gente tem que seguir.

— Você disse que não liga pra regras — retrucou Lucy, revirando os olhos.

Ele deu de ombros, evitando encará-la.

— Não vá pra floresta — alertou, antes de se afastar, deixando-a sozinha na entrada do colégio.

Lucy voltou para a sala, o coração pesado. O garoto estava lá, sentado no mesmo lugar, e lançou-lhe um meio sorriso que ela não soube interpretar. As horas arrastaram-se, e ela batia o pé sem parar, ansiosa pelo sinal. Quando finalmente tocou, ela se levantou rápido, mas alguém colocou o pé em seu caminho. Lucy tropeçou, caindo de joelhos. Risadas ecoaram, e ao erguer os olhos, viu Carolyn, a menina de olhos de safira, com um sorriso maldoso.

— Você não é bem-vinda aqui — disse Carolyn, a voz carregada de veneno.

Lucy se levantou, ignorando as risadas, mas notou que o garoto de olhos de safira a encarava, sério, sem rir. Ela correu para fora, avistando a limusine de Cornélio estacionada.

— Como foi seu dia? — perguntou ele, abrindo a porta com seu sorriso caloroso.

— Pretendo não voltar — disse Lucy, entrando no carro, a voz firme, mas tremendo.

— Imaginei — respondeu Cornélio, fechando a porta, o tom mais sério do que o usual.

— Imaginou? — Lucy franziu a testa. — O que tá escondendo? O que os Sales fizeram?

Cornélio hesitou, olhando-a pelo retrovisor como se escolhesse as palavras com cuidado.

— Lucy, é tudo... complicado — disse, por fim, voltando os olhos para o volante.

— Complicado como? — insistiu ela. — Ninguém me diz nada! Só me atacam, sem motivo!

Ele deu de ombros, permanecendo em silêncio enquanto dirigia. Lucy cruzou os braços, imaginando o espanto de Verônica quando soubesse que ela queria voltar. Sabia que, sem a herança, teria que trabalhar duro, mas já tinha um plano antes de tudo isso. Talvez fosse hora de retomá-lo.


No castelo, Lucy correu para dentro, determinada a falar com Mary. O hall estava silencioso, mas um estrondo a fez parar. Ela seguiu o som até a sala de estar, onde encontrou Mary, visivelmente bêbada, quebrando vasos de cristal contra o chão.

— Cadê minha mãe? — perguntou Lucy a uma empregada, mas antes que ela respondesse, Mary gritou:

— Lucy!

Lucy correu até ela, o coração apertado ao ver os cacos espalhados e a garrafa na mão da mãe.

— Sua avó amava esses vasos — disse Mary, rindo com amargura, antes de jogar outro no chão. — Olha o que faço com eles!

— Para! — gritou Lucy, as lágrimas subindo. — Por favor, mãe!

— Essa é a sua maldição, Lucy, não a minha! — berrou Mary, os olhos marejados. — Sua, só sua! Você me arrastou pra cá, sua menina egoísta e mimada!

Mary levantou a mão, como se fosse acertá-la, mas uma empregada a segurou. Era Catherine, a mulher de cabelos brancos e olhos tristonhos.

— Lucy, eu cuido dela — disse Catherine, com firmeza.

Lucy olhou para a mãe, que agora chorava nos braços de Catherine, o corpo trêmulo. Queria ajudar, mas não aguentava mais aquele peso.

— Como se chama? — perguntou, a voz fraca.

— Catherine — respondeu a empregada, acalmando Mary.

— Catherine, retire qualquer bebida alcoólica desta casa — disse Lucy, tentando soar firme. — E, mãe, espero que isso não se repita. Vou pro meu quarto.

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