Mundo de ficçãoIniciar sessãoOs olhos de safira do garoto cravaram-se nos de Lucy, tão próximos que ela podia sentir o calor de sua respiração. Seus corações batiam acelerados, o ar carregado de tensão. De repente, Lucy recuou, empurrando-o com força. Ele a segurou novamente, e os dois tropeçaram, caindo na grama úmida. Seus olhos se encontraram outra vez, e por um instante, Lucy sentiu o corpo estremecer. O garoto aproximou o rosto, como se fosse beijá-la, e o colar de meia-lua em seu pescoço pulsou, quente contra a pele.
— O que tá pensando que tá fazendo? — gritou Lucy, tentando se soltar.
— Nada! Só tentando te impedir de fazer algo idiota! — retrucou ele, levantando-se, confuso e irritado ao mesmo tempo.
— Me deixa! — Lucy se levantou, limpando a grama da calça, e caminhou em direção à floresta que cercava o colégio.
Ele agarrou seu braço, firme, mas sem machucar.
— Você vai se perder! — disse, a voz carregada de frustração. — Essa floresta não é uma cidade grande. Os animais não querem saber se você tem dinheiro ou não!— E o que te importa? — retrucou Lucy, puxando o braço, o colar vibrando com mais força.
— Não posso te ver se suicidando e não fazer nada. Seria... antiético! — Ele bufou, cruzando os braços.
— Então finge que não viu! — disse Lucy, a raiva crescendo. Ela queria estar o mais longe possível daquele colégio e de seus olhares hostis.
Ele suspirou, suavizando o tom.
— É melhor voltar. Seu motorista deve chegar em poucas horas. Não se arrisca.— Não vou voltar — insistiu Lucy, apontando para o castelo que era o colégio. — As pessoas me odeiam lá dentro.
O garoto riu, não de deboche, mas da expressão dela, quase infantil em sua indignação.
— Ninguém vai te fazer mal. Não fisicamente, pelo menos.— Ah, que animador! — disse Lucy, irônica. — Então tá, vou voltar correndo pra um lugar onde ninguém age como gente civilizada.
Ele riu novamente, o que a irritou ainda mais.
— Por que tá falando comigo? — perguntou ela. — Até onde sei, todos estão proibidos de se aproximar de mim.— Nunca fui de seguir regras — disse ele, dando de ombros, com um meio sorriso. — Por que começaria agora?
Lucy cruzou os braços, notando um brilho de hesitação nos olhos dele.
— Mas você se afastou quando soube que sou uma Sales.Ele mordeu o lábio, como se estivesse em um beco sem saída. Seus olhos de safira escureceram por um momento.
— Fiquei surpreso — admitiu, a voz mais baixa. — Não esperava... uma Sales.— Por que ser uma Sales é um problema? — perguntou Lucy, a voz tremendo, quase chorosa. O colar pulsou, e uma visão fugaz a atingiu: um círculo de pessoas ao redor de uma fogueira, gritando palavras que ela não entendia. Ela piscou, atordoada, a imagem sumindo.
Ele hesitou, como se quisesse dizer algo para confortá-la, mas não encontrou as palavras.
— Não devia tá falando com você — disse, por fim, o tom firme, mas com um toque de relutância. — Algumas regras... a gente tem que seguir.— Você disse que não liga pra regras — retrucou Lucy, revirando os olhos.
Ele deu de ombros, evitando encará-la.
— Não vá pra floresta — alertou, antes de se afastar, deixando-a sozinha na entrada do colégio.Lucy voltou para a sala, o coração pesado. O garoto estava lá, sentado no mesmo lugar, e lançou-lhe um meio sorriso que ela não soube interpretar. As horas arrastaram-se, e ela batia o pé sem parar, ansiosa pelo sinal. Quando finalmente tocou, ela se levantou rápido, mas alguém colocou o pé em seu caminho. Lucy tropeçou, caindo de joelhos. Risadas ecoaram, e ao erguer os olhos, viu Carolyn, a menina de olhos de safira, com um sorriso maldoso.
— Você não é bem-vinda aqui — disse Carolyn, a voz carregada de veneno.
Lucy se levantou, ignorando as risadas, mas notou que o garoto de olhos de safira a encarava, sério, sem rir. Ela correu para fora, avistando a limusine de Cornélio estacionada.
— Como foi seu dia? — perguntou ele, abrindo a porta com seu sorriso caloroso.
— Pretendo não voltar — disse Lucy, entrando no carro, a voz firme, mas tremendo.
— Imaginei — respondeu Cornélio, fechando a porta, o tom mais sério do que o usual.
— Imaginou? — Lucy franziu a testa. — O que tá escondendo? O que os Sales fizeram?
Cornélio hesitou, olhando-a pelo retrovisor como se escolhesse as palavras com cuidado.
— Lucy, é tudo... complicado — disse, por fim, voltando os olhos para o volante.— Complicado como? — insistiu ela. — Ninguém me diz nada! Só me atacam, sem motivo!
Ele deu de ombros, permanecendo em silêncio enquanto dirigia. Lucy cruzou os braços, imaginando o espanto de Verônica quando soubesse que ela queria voltar. Sabia que, sem a herança, teria que trabalhar duro, mas já tinha um plano antes de tudo isso. Talvez fosse hora de retomá-lo.
No castelo, Lucy correu para dentro, determinada a falar com Mary. O hall estava silencioso, mas um estrondo a fez parar. Ela seguiu o som até a sala de estar, onde encontrou Mary, visivelmente bêbada, quebrando vasos de cristal contra o chão.
— Cadê minha mãe? — perguntou Lucy a uma empregada, mas antes que ela respondesse, Mary gritou:
— Lucy!Lucy correu até ela, o coração apertado ao ver os cacos espalhados e a garrafa na mão da mãe.
— Sua avó amava esses vasos — disse Mary, rindo com amargura, antes de jogar outro no chão. — Olha o que faço com eles!— Para! — gritou Lucy, as lágrimas subindo. — Por favor, mãe!
— Essa é a sua maldição, Lucy, não a minha! — berrou Mary, os olhos marejados. — Sua, só sua! Você me arrastou pra cá, sua menina egoísta e mimada!
Mary levantou a mão, como se fosse acertá-la, mas uma empregada a segurou. Era Catherine, a mulher de cabelos brancos e olhos tristonhos.
— Lucy, eu cuido dela — disse Catherine, com firmeza.Lucy olhou para a mãe, que agora chorava nos braços de Catherine, o corpo trêmulo. Queria ajudar, mas não aguentava mais aquele peso.
— Como se chama? — perguntou, a voz fraca.— Catherine — respondeu a empregada, acalmando Mary.
— Catherine, retire qualquer bebida alcoólica desta casa — disse Lucy, tentando soar firme. — E, mãe, espero que isso não se repita. Vou pro meu quarto.







