O sol da manhã filtrava-se pelas cortinas, lançando linhas douradas sobre a mesa da cozinha. O aroma do café fresco se espalhava, espesso, como se quisesse preencher cada espaço vazio entre Cecília e Enrico. Mas o silêncio ainda reinava, e era pesado.
Cecília mexia lentamente a colher na xícara, observando o líquido formar redemoinhos preguiçosos. Por fora, calma. Por dentro, um turbilhão. Ela sabia que ele viria falar. Sabia que o nome da irmã estaria na conversa. E sabia que, quando o assunto surgisse, haveria atrito.
Do quarto, o som ritmado dele se arrumando parecia mais alto do que de costume. O deslizar da gravata, o estalar do cinto, o ajuste do colarinho. Cada som era como a contagem regressiva para um confronto.
Ele apareceu no batente, pasta de trabalho numa mão, a gravata perfeitamente alinhada. Os olhos dele pousaram nela por alguns segundos, medindo o clima.
— Posso falar um minuto? — perguntou, a voz baixa, como quem teme romper algo frágil.
Cecília girou a colher mais u