O dia estava particularmente agitado no bar. Uma confraternização inesperada de uma empresa fez os pedidos dobrarem, os garçons se atrapalharem e o humor de Cecília despencar. Ela tentava manter o controle, mas tudo parecia irritar: o som alto, o cliente reclamando do tempo de espera, a bandeja que quase caiu no chão. Tudo. Inclusive Enrico.
Ele esperava o fim do expediente. Dessa vez, no entanto, escolheu o canto discreto ao invés do balcão para acompanhar tudo de longe, observando cada movimento dela como quem analisa uma equação. Seu olhar era preciso demais, intenso demais. Cecília podia senti-lo em sua pele, como uma corrente elétrica discreta que a deixava ainda mais tensa.
Quando Cecília esbarrou em Júlia pela terceira vez em cinco minutos, soltou um palavrão e bateu a bandeja no balcão com força.
— Cacete, ninguém ajuda nessa porra!
Júlia arregalou os olhos, surpresa com o tom.
— Ceci tá virada no demônio hoje, hein?
Cecília bufou, ignorando o comentário, e saiu em direção à c