Theodoro
Segunda-feira. Sete e onze da manhã. E eu já acordei odiando tudo. O mundo e tudo o que há nele.
O despertador tocou e, pela terceira vez, eu o ignorei. Ele insistiu. Eu xinguei. E lá estava eu, deitado no escuro do meu quarto, encarando o teto com a expressão de um homem que perdeu a batalha contra a própria agenda.
O fim de semana que eu planejei com meses de antecedência — casa na praia, silêncio, whisky, tênis ao pôr do sol — foi cancelado com a mesma frieza com que meu pai cancela aniversários de funcionários.
— “Almoço no sábado com empresários, filho. São contatos importantes.”
— “Depois temos o evento beneficente. Você, eu e sua mãe. Como uma família.”
Família. Essa palavra na boca dele tem um gosto amargo. Ele não sabe o que é isso. Para meu pai, tudo é transação. Almoço? Networking. Evento beneficente? Relações públicas. Filho? Uma extensão da marca Lancaster.
O almoço foi em um restaurante francês, tão caro que a água era servida em taça de cristal. Gente engravata