Quase profissional

Leydi Dayane

O relógio marcou meio-dia e quarenta e sete quando eu finalmente consegui respirar e pensar em comida. A fome já fazia um show de horrores no meu estômago e, entre um contrato e outro, eu já tinha começado a imaginar o teclado do computador como uma tábua de frios.

Levantei-me, peguei minha bolsa (a da vez era preta com alças de corrente dourada — chiquezinha, para combinar com a ilusão de que minha vida está sob controle) e saí da empresa com passos rápidos, como quem foge de um incêndio. E, tecnicamente, era. Um incêndio de e-mails, ordens secas, contratos marcados com sangue e café frio.

Dois quarteirões abaixo da Avenida Paulista, entre uma loja de celular falida e um pet shop que cheira a xampu vencido, fica a lanchonete. Aquela. A tradicional, a infame. Ambiente duvidoso, mesa com plástico colado no tampo, ventilador de teto que gira com um chiado suspeito e uma televisão antiga pendurada no canto que vive passando o mesmo jornal local desde 2003.

Mas... era barata.
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