Theodoro Lancaster
Não sei se foi a pergunta, o modo como ela me olhou, ou o silêncio que se instalou logo depois. Mas alguma coisa naquela manhã... quebrou.
Não trincou. Estilhaçou.
Todos à mesa paralisaram, como num estranho jogo de estátua. Minha mãe ficou com a colher parada no ar, os olhos saltados. Arthur congelou com o jornal dobrado no meio, os lábios entreabertos. Até a menina que falava mais do que respirava — Gamora — ficou muda. Me encarava como se minha resposta fosse a senha secreta de um cofre escondido há anos.
"Harmonização facial?", ela repetiu, como quem tenta confirmar um detalhe crucial de um mistério antigo.
E meu cérebro, como um rádio fora de sintonia, só conseguiu responder com um zumbido abafado.
— Sim... — respondi, automático. A hesitação escapou antes da lógica. Porque sim, eu havia feito. Nada radical, apenas correções pontuais: a mandíbula, os sulcos abaixo dos olhos, o nariz que sempre achei um pouco torto.
Mas... por que ela perguntou isso? O que aquil