Leydi Dayane
O ônibus estava cheio. Lotado. Parecia o vagão do metrô em dia de greve, com direito a cheiros duvidosos, gente encostada onde não devia e o clássico do fim de expediente: aquele CC agridoce que só o suor humano consegue proporcionar.
Mas, milagre dos milagres, eu consegui um lugar para me sentar.
Não era a janelinha dos sonhos — aquela que me permite fingir que sou protagonista de filme indie com trilha sonora triste —, mas ainda assim, estava sentada. E isso já era uma vitória. Se eu quisesse luxo, pegava Uber. Mas com o preço da batata frita e o aluguel subindo, me sentar no ônibus virou privilégio de rainha.
Apoiei a bolsa no colo, respirei fundo e comecei a observar. Faço isso sempre. Observar gente me distrai. Têm rostos curiosos, expressões engraçadas, casais brigando em silêncio, adolescentes rindo alto de memes... e hoje, logo ali na frente, um homem de terno.
Só isso. Um homem de terno.
E pronto. Meu cérebro resolveu brincar com minha sanidade.
Theodoro Lancaste