63. Memórias
A chuva caía fina do lado de fora, arranhando os vidros do quarto com aquele som monótono que sempre me fazia pensar demais. Lara estava deitada no tapete, de pijama, folheando uma revista qualquer, enquanto eu tentava fingir interesse em um livro que já havia lido três vezes.
— Você tá estranhamente quieta. — ela comentou, sem levantar o olhar. — Isso significa o quê? Pensando em alguém ou tentando não pensar?
Revirei os olhos. — Nem tudo gira em torno de “alguém”, Lara.
— Claro. — ela riu. — Mas o “alguém” costuma ser um ótimo motivo pra gente ficar introspectiva desse jeito.
Joguei uma almofada nela, que desviou no último segundo. — Você é insuportável.
— E você é péssima mentirosa. — respondeu, divertida, sentando-se e cruzando as pernas. — Quer saber? Me conta uma coisa diferente, então. Vamos mudar de assunto.
Fechei o livro e olhei pra ela. — Tipo o quê?
— Sei lá... nunca falamos da sua família.
O coração deu um salto, mas disfarcei com um sorriso leve. — Já falamos sim.
— Fala