35. No controle

A madrugada pesava como chumbo. Eu não dormia. Não conseguia.

A imagem de Ágatha com a minha camisa, os olhos dela cheios de raiva e confusão, continuava gravada em mim. Havia algo naqueles olhos que me desmontava de um jeito que eu não podia admitir — nem para mim mesmo.

Levantei da poltrona e caminhei até o corredor. O silêncio da casa era absoluto, mas não me trouxe paz. Bati de leve na porta do quarto dela.

— Ágatha?

Nada.

Girei a maçaneta. O quarto estava vazio. A cama, intacta. O closet ainda aberto, uma das minhas camisas fora do lugar, mas ela não estava lá.

Meu estômago revirou.

Ela havia partido.

Hesitei, depois cedi ao impulso e enviei uma mensagem curta:

— Onde você está?

O silêncio respondeu primeiro. Nenhuma resposta chegou; a espera pareceu uma eternidade.

Joguei o celular sobre a mesa, peguei um copo de água e deitei uns minutos onde o cheiro dela ainda estava impregnado nos lençóis. Fechei os olhos, e a imagem dela, com minha camisa, preencheu minha mente.
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