Uma guerra fria

Jeremy Bistrot Gourmet –

 O restaurante era impecável.

As paredes tingidas de branco e areia, um lustre sofisticado pendurado ao centro e o cheiro de temperos gastronômicos invadiam o lugar, junto a maestria do tilintar das louças de cristal.

Meu salto ecoava pelo chão impecável, mas o barulho era absorvido pelo som do lugar.

Vozes finas e não tão altas, se misturavam a toda a harmonia do ambiente, trazendo a imagem de um lugar elegante, frequentada pela alta sociedade.

Caminhamos até a área VIP.

Empurrei as enormes portas de madeira, dando vista a uma mesa enorme e redonda ao centro da sala, com duas imensas janelas e um vaso de flores vivas ente elas.

—Querido! Que bom te ver. – Disse Cleo, caminhando até o filho, o abraçando com uma animação que eventualmente não cabia ao lugar.

Ela estava em luto. E não se permitia sair dele.

E tudo o que ela tocava era tão mórbido quanto os tons negros e cinzas de suas roupas.

Respirei fundo e me abaixei até o pequeno que encarava a mais velha com os olhos assustados e então, tirei sua pequena mochila.

—Pequeno senhor, desculpa não ter me apresentado antes. Me chamo...- Ele me cortou.

—Senhorita Rider. Eu a conheço. – Disse ele me deixando completamente espantada.

Ele era muito direto para a pouca idade.

—Se tiver algo que eu possa fazer por você é só me chamar.

E então, a voz de Mark me cortou.

—Benjamin, ela é a Hana Rider, a assistente pessoal da vovó Backer. Pode a chamar se precisar.

—Claro! – Disse a senhora Backer, abraçando Mark na cintura. —Ela é a mais eficiente no que faz e consegue tudo com rapidez. Se quiser eu posso deixá-la só com você.

Assim que ela disse aquilo, um nó se fez na minha garganta.

Eu encarei Mark e desci os olhos para o filho dele.

—Estou a sua disposição. – Falei colocando um riso nos lábios, mas isso não o encantou.

O pequeno se afastou e se sentou a mesa, pegando um celular do bolso da calça, colocando em um jogo para se distrair.

O clima mudou. Ficou completamente pesado e eu sabia; era obrigação minha mudar aquela cena.

Levei meus olhos para a senhora Backer a vendo me olhar esperando que eu dissesse algo.

—Senhora, vou deixá-los a sós. – Assenti fazendo menção de me virar e então, a voz dela soou me respondendo.

—Hana...- Me chamou fazendo eu me virar para a olhar.

—Pois não senhora.

—Descanse um pouco. Sente-se conosco se quiser.

Assim que ela falou, assenti me curvando brevemente.

—Obrigada Senhora Backer, mas vou aguardar lá fora. Estarei a disposição. – Falei a vendo sorrir.

Mas o sorriso, nada mais era do que algo maquinado.

Girei meus pés e saí de lá, encostando as enormes portas e ao me virar, o chefe veio com um carrinho de aperitivos.

—Senhorita Rider, aqui está o que me pediu. O almoço logo ficará pronto.

—Senhor Valmont, obrigada por me atender. – Respondi simpática, olhando para o menu no carrinho. —Não pode haver amendoim. Não se esqueça.

—Jamais. Guardo isso com a minha vida. – Disse ele me fazendo assentir.

—Obrigada. – Falei abrindo as portas para que ele entrasse e me surpreendi ao ver uma figura alta e forte passar por ela.

Não deu nem tempo para que eu me espantasse; a mão firme de Mark segurou acima do meu cotovelo e me puxou dali com ele.

Eu mancava enquanto era arrastada a escada de emergência. E assim que passamos pela porta, senti minhas costas baterem na parede e Mark bateu as mãos ao lado do meu corpo me cercando.

—Que inferno aconteceu aqui na minha ausência?

—Do que está falando, senhor Backer? – Perguntei o vendo se afastar e me encarar com os olhos mortais.

—Senhor Backer. – Ele repetiu, saboreando o nome com amargura em seus lábios. —Eu não fico cinco minutos ao lado dela e descubro que Hana Rider me arranjou um encontro?

Disse ele me olhando com fúria.

—O que você se tornou? Um cachorro de estimação da senhora Backer? Uma imagem idêntica a dela que faz tudo sem nenhuma margem de erro? Que diabos é você?

Assim que ele falou, ajustei minha roupa e levantei o queixo o encarando.

—Uma funcionária exemplar, que faz por merecer o dinheiro que recebe.

—Ah! Então é pelo dinheiro? – Disse ele dando um soco na parede ao lado da minha cabeça. —Merda Hana!

—Mark! – Gritei o encarando fixamente. —O que pensa que está fazendo?

—O que você pensa que está fazendo. – Respondeu ele me olhando de volta. —Eu fui embora desse lugar porque não aguentava o controle deles. E não voltar, descubro que o controle agora está em suas mãos?

—Está bravo por causa do encontro as cegas que terá, senhor Backer? Ou por que aqui, tem ordens a serem seguidas? – Perguntei sem entender o motivo da fúria.

Ou ao menos, fingindo não entender.

Mark me encarou com seriedade e se aproximou, segurando meu queixo me obrigando a encará-lo.

—Não me provoque, Hana. – Ele rosnou.  —Eu estou bravo porque você acha que pode controlar tudo a sua volta com a ordem da minha mãe. Mas eu voltei Hana. E essa tarefa me pertence.

Disse ele com seus olhos emanando raiva e vingança.

—Escute bem... – Continuou ele, me soltando como se minha pele o queimasse. —Isso não é um jogo e eu voltei para pegar de volta o que é meu.  

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