O reencontro

Aeroporto internacional de Los Angeles –

Eram oito e vinte e nove da manhã.

Pisar naquele lugar depois de cinco anos me causava uma certa ânsia e só eu sabia o quanto isso me afetava, mas eu não poderia sair do meu papel de funcionária perfeita.

Ajustei minha saia no corpo sentindo uma sensação de vulgaridade; mesmo que ela fosse até o meio das minhas coxas, a ansiedade me fazia sentir desnuda.

Sátiras. Piada de péssimo gosto.

Por que eu estava me dando ao luxo de ansiar ver alguém depois de tudo?

Cinco anos. Fazia cinco anos que eu não pisava nesse lugar e a minha última visita, foi a mais dolorosa de todas.

Eu não poderia deixar isso me afetar e então, me obriguei a vestir a máscara de granito e garantir que mais um dia de trabalho fosse concluído com sucesso.

E lá estavam eles.

—Senhorita Rider... – Chamou Gabriel, o novo assistente de Mark que eu mesma havia contratado.

Eu o olhei com a seriedade de sempre e assenti, o vendo ir até Mark e se apresentar, enquanto pegava o carrinho de bagagens.

De repente, os olhos castanhos e indescritíveis de Mark encontraram os meus. Ele não acenou.

Ele não sorriu.

Ele apertou a mão da criança que o acompanhava e se moveu pela saída, parando ao meu lado.

—Senhorita Rider... – Disse ele, sem se virar para me olhar. —Reporte-se!

—Bom dia senhor Backer. Espero que tenha feito uma ótima viagem. – Falei sem um tom afetivo na voz.

E quando eu estava prestes a falar, ele me interrompeu.

—Comentário desnecessário. Vá direto ao ponto. – Disse ele, movendo-se, sabendo que eu o acompanharia.

E então, eu o fiz.

Andei ao lado dele, mas mantendo uma distância significativa.

—Ela desmarcou a reunião do meio-dia. O senhor tem um almoço com ela as treze horas.

Assim que falei, ele finalmente se virou para me olhar.

—E.. Ela? – Ele perguntou sem dar nomes.

Não era necessário.  

Era uma conversa meio dramática para termos ao lado de uma criança de cinco anos.

—Recusa tomara medicação. Não recebe visitas. Isolou o corredor principal. – Falei o vendo frear os pés e me olhar com num certo desprezo.

—Ou seja...apenas o cachorrinho dela tem acesso?

Cachorrinho. – Um apelido que não chegou em meus ouvidos como ofensa.

E ele sabia.

O clima ficou tenso entre nós e de repente, o pequeno sacudiu a mão do pai nos tirando do transe.

—Papai. Vai demorar para vermos a vovó? – Perguntou o pequeno com num tom doce, mas contido.

Eu o olhei por um breve momento e em seguida encarei o olhar de Mark.

—Senhor Backer é melhor irmos, se não vamos nos atrasar.

—Claro...Senhorita Rider. – Disse ele voltando a segurar firme a pequena mão do filho, andando na minha frente.

E novamente eu o segui.

Entramos no carro e o silêncio foi severo, até ser cortado pelo toque do meu celular.

E eu não hesitei em atender.

—Pois não, senhora Backer!

—Hana...- Chamou ela com uma certa ansiedade na voz. — Eles...

—Sim senhora. Estou com eles. Já estamos a caminho.

—Ótimo. – Disse ela, desligando a ligação.

Meus olhos encontraram brevemente os de Mark pelo retrovisor e então, desviei primeiro ao ouvir Gabriel me chamar.

—Hana...Digo, senhorita Rider, para onde devo ir?

Eu me virei para o olhar e respirei fundo, prendendo meus cabelos no alto com um coque desajeitado, me esquecendo sobre a hierarquia no veículo.

—Siga as coordenadas do GPS. Vamos a um restaurante de carnes...

Ele me interrompeu:

—Mas a senhora não aceita carnes...- Eu o olhei pedindo que se calasse, sem precisar abrir a boca. —Desculpa!

—Não falamos sobre a vida dos nossos patrões nem dentro e nem fora de quatro paredes. Se quiser manter o seu emprego, lembre-se disso.

—Não vai acontecer, senhorita! – Disse ele.

Para não pesar o clima, sorri brevemente, ajeitando a minha postura no banco.

Peguei o tablet em mãos e olhei para Mark pelo retrovisor interno, o vendo com os olhos fechados.

Sua aparência séria e impecável não havia mudado nada nesses cinco anos.

O corpo alto, forte, ombros e costas largas que se ajustava bem em sua jaqueta e as coxas torneadas como se explorassem o limite do tecido da calça.

Mas nos olhos. Aquele olhar felino e castanho que se rasga a alma como se tentasse desvendar os pensamentos de quem o encarava.

No caso, eu.

—O que quer, senhorita Rider...

—Desculpa, eu vi que...- Errei na resposta. —Achei que o senhor estivesse dormindo. Eu posso fazer algo pelo senhor antes de irmos ao restaurante?

A pergunta saiu um pouco desajeitada, mas ele entendeu.

Mark encarou o filho, que estava adormecido ao seu lado do banco e então, respirou fundo, voltando a segurar o meu olhar.

—Sim. Me responda algo. – Disse ele, me fazendo o olhar fixamente, causando um certo arrepio pelo meu corpo.

—Pois não, senhor...

—De que lado está jogando? Vai continuar a servi-la ou a mim? – Ele falou, fazendo todo o ar do carro se esvair.

Gabriel fingiu não ouvir, mas pude perceber a tensão em seu corpo. E quando meus olhos voltaram para Mark, ele arqueou uma sobrancelha e se ajustou no banco.

—Não me responda. Eu já tenho uma resposta. - Disse ele, fazendo uma breve pausa sntes de voltar a falar. —Só quero que saiba que, eu não serei legal. Eu não vou facilitar.

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