Assim que ele falou, se virou me deixando sozinha ali, com o coração batendo contra a minha costela.

Ele era um homem com um timbre de voz sedutor, uma aparência impecável e sexy, mas em seus olhos não havia mais a admiração ou a paixão do passado.

Havia raiva. Sede por vingança.

Ele mal havia chegado e já estava declarando guerra.

Assim como eu também declarava a minha.

O almoço passou como um borrão. Assim que eles terminaram, eu fui chamada de volta a sala VIP.

Dessa vez, não estava mais de saltos, eu havia os tirado porque antes que eu fosse arrastada por Mark, meus pés já estavam machucados.

Assim que abri as portas para ir até eles, os olhos impecáveis e observadores da senhora Backer foram direto aos chinelos nuvem nos meus pés.

Ela arqueou uma sobrancelha me questionando sem voz sobre a falta de compromisso com a vestimenta e então eu me defendi.

—Sinto muito senhora, minha sandália se arrebentou e não há lojas abertas por aqui, apenas uma conveniência no subsolo.

—Seja mais atenta na próxima vez. – Disse ela passando por mim sem me olhar, segurando a mão do neto.

Quando chegou a vez de Mark, ele parou, mas seus olhos estavam diretos na porta.

—Mentirosa. – Disse ele com um tom baixo e ofensivo.

Encarei meus pés vendo as enormes bolhas atrás do meu tornozelo que já sangravam e respirei fundo.

—Senhor Backer –

Ele me interrompeu.

 —Você é como ela. Uma farsa ensaiada. Tudo em você cheira a plástico. Cheira a superficialidade.

Assim que ele falou, engoli seco, ousando encará-lo.

—Desculpa se a minha presença te incomoda, mas tudo o que sou hoje devo a sua mãe. Então, sim, eu vou ser o melhor que ela pedir.

Ele sorriu ladino, mas com um veneno escondido no olhar.

—Eu espero que sim. Assim, será melhor para eu te derrubar. – Disse ele guardando as mãos dentro dos bolsos, saindo da área VIP.

Respirei fundo e ajeitei a minha roupa como se ela tivesse tentado sair do meu corpo e a sensação de estar nua, voltou. – Maldita sensação de inferioridade.

Caminhei até o garçom o entregando uma pequena carteira com os pedidos e o cartão, o vendo debitar o valor da conta na minha frente, me entregando o comprovante.

—Voltem sempre! – Disse ele com delicadeza e eu assenti, saindo em seguida.

Assim que cheguei ao carro, me sentei ao lado de Gabriel ouvindo a voz de Cleo tomar conta do lugar.

—Senhorita Rider, eu vou para a aula de Pilates. Pode acomodá-los por gentileza?

—Claro senhora. Volto as oito para a buscar. – Respondi olhando-a pelo retrovisor a vendo sorrir superficialmente.

—É. Nenhum minuto a mais e nem a menos. – Disse ela como se fizesse piada da minha pontualidade.

Mark se virou para ela e sorriu de forma irônica e debochada.

—Sua assistente é muito dedicada. Ela não responde e faz tudo como se a conhecesse de perto.

—Não é? – Disse ela o respondendo sem se virar para o olhar. —Tenho medo de trocá-la e não achar alguém competente ao nível dela.

Então era isso.

Ele a provocou para que dissesse a verdade. Uma verdade nada bonita.

Não havia consideração. Havia apenas profissionalismo.

Aquilo fez meu corpo gelar e algo amargo subir pelo meu estômago. E infelizmente, as provocações dele não ficaram só nisso.

—Mas a senhora deveria tentar outra pessoa. Agora que o pai se foi...- A palavra congelou todo o carro, mas ele não parou de falar. — Agora...a senhora vai precisar de alguém mais...braçal.

—Braçal? O que está sugerindo? – Perguntou a senhora Backer, se virando para o olhar.

—Mais braçal. Alguém que lute, alguém que a proteja sem usar saias. – Ele falou, trazendo o olhar para mim como se dissesse: “viu, eu te avisei que ia ferrar com você”.

A senhora Backer respirou fundo.

—Você veio para cuidar das coisas. Eu não consigo mais resolver tudo.

Ele olhou e assentiu com um balanço de cabeça.

—Sendo assim, Gabriel a acompanhará a partir de agora e a Hana...- Ele deu um tempo e continuou a falar, sem desviar os olhos de mim. —Ela será a babá de Benjamin.