**(Narrado por Caio Valença)**
Ela está dormindo.
Ou talvez apenas finja que está.
No fundo, tanto faz.
Eu ouvi o sussurro dela.
Eu nunca parei de esperar por ele.
E quer saber? Isso é problema dela.
O fato é que Dante está morto.
E o mundo continua girando.
Levantei da cama em silêncio. A noite estava abafada, pegajosa. Caminhei até o escritório o espaço que antes era dele. Aquele mesmo ambiente que exalava poder e pretensão.
Agora, o que se sente ali é o meu cheiro.
Abri a porta, e a luz amarelada da rua penetrava no escuro pelas frestas da persiana.
Sentei na cadeira de couro.
Era a cadeira dele.
Feita sob medida, com encosto alto, couro legítimo, o nome dele gravado na lateral.
Arranquei a plaquinha com o nome Dante Ferraz no dia seguinte ao acidente.
Agora, está marcado o meu nome.
Liguei o notebook.
Folheei relatórios, contratos, memorandos que tinham minha assinatura no rodapé.
No cabeçalho, o logo da empresa.
Cargo: diretor executivo.
Um cargo que antes era dele.
Hoje, é meu.