Capítulo 3 — Promessas

Isadora sorriu levemente, agradecida, mas logo desviou o olhar para o corredor à sua frente. Era hora de se recompor, focar nos exames de Helena e manter a compostura, enquanto lidava com a tensão do presente e as memórias que ainda mexiam com ela silenciosamente.

Ela voltou ao seu próprio consultório no hospital, longe dos corredores movimentados. Sentou-se à mesa, apoiou os cotovelos e deixou que a mente vagasse pelo que havia acontecido. O silêncio do ambiente contrastava com o turbilhão dentro dela.

Tudo parecia tão rápido. Um segundo estava tudo sob controle, e no seguinte, o escândalo estava espalhado por todos os cantos da cidade. Ela se lembrava claramente do momento em que a confusão começou: paciente em estado grave, um frasco trocado, uma informação vazada por alguém da equipe, algo que ela jamais poderia imaginar, mas que agora a colocava sob holofotes indesejados.

— Como tudo isso aconteceu? — murmurou para si mesma, sentindo a raiva e a frustração crescerem.

A mídia não havia perdoado. Redes sociais, sites de notícias e até mensagens de grupos privados espalhavam rumores e julgamentos. Cada manchete parecia um golpe direto, cada comentário um lembrete de que todos estavam observando e criticando sem conhecer a verdade.

Ela se recordava da primeira vez que viu seu nome vinculado ao incidente. O celular vibrou incessantemente, notificações explodindo como fogos de artifício, todas carregadas de julgamentos, teorias e acusações. A sensação de impotência a dominou: não podia explicar nada sem expor detalhes médicos ou colocar outros em risco, mas sabia que precisava descobrir quem realmente estava por trás disso.

Isadora fechou os olhos, respirando fundo. A raiva se misturava à tristeza e ao cansaço, mas também havia uma determinação silenciosa crescendo dentro dela. Cada olhar de julgamento, cada manchete cruel, apenas fortalecia sua vontade de provar sua inocência e proteger sua carreira.

— Não fui eu… e vou descobrir quem foi — disse baixinho, quase como uma promessa para si mesma. — Custe o que custar.

Ela abriu os olhos e recobrou a postura profissional. Era hora de deixar os pensamentos de lado e se concentrar no que realmente importava naquele momento: a avó de Daniel e todos os pacientes que dependiam de seu cuidado. Mas a determinação permanecia, firme, silenciosa e ardente, como uma chama que ninguém poderia apagar.

O quarto estava silencioso, exceto pelo bip ritmado do monitor cardíaco e o som contínuo do oxigênio. Daniel permanecia firme ao lado da cama, a mão apertada na da avó, como se aquele contato fosse um ponto de equilíbrio em meio ao caos.

— Vovó... — começou com a voz grave, carregada de tensão. —Estão falando de mim como se eu fosse um criminoso... Mas não é verdade.

Seu olhar estava fixo, penetrante, e a mandíbula cerrada denunciava sua fúria.

— Não fui eu. Alguém armou isso. Estão tentando acabar com meu nome, com a minha reputação... e eu vou descobrir quem foi. — As palavras saíram quase como uma promessa. — Não vou deixar que me destruam.

Ele inspirou fundo, forçando-se a manter o controle.

— Só quero que saiba... que pode confiar em mim. Eu vou limpar essa sujeira, Custei o que custar.

Helena não podia falar muito, a máscara de oxigênio dificultava, mas seus olhos marejados e o aperto firme na mão do neto foram sua forma silenciosa de apoio.

Daniel aproximou-se mais, sem desviar o olhar dela.

— Eu vou provar minha inocência. Não vou descansar até fazer isso.

Helena piscou devagar, transmitindo uma confiança muda. Era pouco, mas suficiente para que Daniel mantivesse a chama da determinação acesa. Não havia espaço para fraqueza apenas para a fúria e a vontade de lutar.

...

Isadora estava sentada na poltrona de couro do consultório, imóvel, encarando a imensidão da cidade de Porto Azul através da janela de vidro que ia do teto até o chão.

A cidade era conhecida por seu contraste intenso: de um lado, arranha-céus modernos refletindo luzes vibrantes, o comércio pulsante e restaurantes luxuosos que recebiam políticos e empresários influentes; do outro, bairros antigos ainda carregavam marcas do tempo, com ruas estreitas e histórias que remontavam à fundação portuária da região. Localizada no litoral, Porto Azul exibia sua beleza natural com o mar se estendendo até onde os olhos podiam alcançar, enquanto a brisa noturna carregava o cheiro salgado que chegava até o hospital.

Mas nada disso trazia consolo à Isadora. O reflexo dela mesma no vidro parecia um lembrete cruel de tudo o que vinha enfrentando nos últimos dias.

Do alto, seu olhar desceu para a movimentação em frente ao hospital. Vários jornalistas se aglomeravam, com câmeras e microfones em punho, aguardando qualquer novidade que pudesse alimentar os noticiários da madrugada. Um suspiro pesado escapou dos seus lábios, seguido de um resmungo quase inaudível:

— Parasitas…

Ela passou as mãos pelos cabelos, tentando afastar a inquietação que crescia dentro dela. O relógio marcava quase meia-noite. O celular vibrou sobre a mesa, quebrando o silêncio. Era uma mensagem de Sarah:

"Como você está? Conseguiu descansar um pouco? Estou preocupada..."

Isadora fitou a tela por alguns segundos, respirou fundo e respondeu apenas com um:

"Estou levando. Depois te explico com calma."

Guardou o aparelho de lado, mas o peso no peito não diminuiu. Pelo contrário, parecia aumentar à medida que a solidão do consultório se tornava sufocante.

Levantou-se, caminhou de um lado ao outro e, quase sem perceber, abriu a agenda de contatos no celular. Seus dedos deslizaram até parar em um nome, era um de seus pacientes : Marcos Araújo.

Detetive particular. Um dos melhores que conhecia discreto, meticuloso e, acima de tudo, confiável.

Ela hesitou por alguns instantes, encarando o número na tela. Chamá-lo seria como declarar guerra contra as sombras que a cercavam. Mas talvez já fosse tarde demais para recuar.

Depois de alguns segundos de indecisão, ela preferiu lhe mandar uma mensagem.

“ Boa noite, estou precisando dos seus serviços, você pode me encontrar amanhã?”

Enviou a mensagem e logo ele lhe respondeu, com se tivesse a espera:

“ Claro Sra. Melo vamos marcar um café para conversar, poder ser às 9 horas da manhã?”

Isadora respondeu:

“Sim, vou te passar a localização da cafeteria”

E assim o fez. Ao ver a mensagem confirmada, sentiu-se mais tranquila, como se tivesse dado um passo importante para recuperar o controle da própria vida. Finalmente desligou o celular, encostando-se no encosto da poltrona. O cansaço dos últimos dias caiu sobre ela como uma maré pesada. Resolveu descansar um pouco, ainda que a mente insistisse em mantê-la desperta.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP