ISABELLA
As vozes chegam primeiro — um sussurro pesado em russo que se infiltra pelo corredor como água suja. Não precisam ser claras para eu saber o que significam: perigo.
Aquela língua já ecoou demais nos meus pesadelos; tem o gosto de ferro na boca quando a ouço. Mamãe me ensinou a teme-lo.
“Você sobrevive, Isabella.” A frase de Donatella vem como lembrete, como ordens enfiadas no meu corpo desde que aprendi a caminhar entre sombras. Repito em silêncio, mastigando as palavras até que se tornem força.
Os fios que prendem meus pulsos farfalham. Estão frouxos — um erro dos capangas que me vigiam ou um presente do acaso. Não penso. Retiro-os com a precisão que veio de anos de treino: dedos calejados, movimentos rápidos, sem hesitar. As vozes se aproximam. A dor nas articulações acende por um segundo, depois some. Não posso gastar tempo com dor.
O quarto é um labirinto de cheiros hospitalares e imagens desbotadas.
Saio pela janela do corredor para a varanda externa. O frio da pedra c