O som da chuva fina batendo no telhado lembrava código Morse. Eduardo observava o pen drive sobre a mesa improvisada — um pedaço minúsculo de plástico preto que pesava como uma sentença. O bilhete de Azevedo, já amassado e manchado, repousava ao lado. As palavras ainda o assombravam: Não confie neles. O eco é a chave.
Enquanto Vivian dormia, enrolada num cobertor surrado perto da lareira apagada, ele finalmente se permitiu lembrar o momento em que tudo começou — o dia em que encontrou aquele maldito bilhete.
***
A casa cheirava a charuto, mofo e pólvora. Eduardo havia ido sozinho, seguindo um endereço cifrado que o perito da Federal rastreara entre os documentos apreendidos do antigo deputado Álvaro Azevedo — o homem que todos diziam estar morto, mas cujo nome ainda pairava nos corredores do poder como um eco que não se cala.
O lugar ficava num vale esquecido, com uma bandeira rasgada presa à varanda. A fechadura já havia sido forçada. No chão, marcas de arrasto. Uma garrafa quebrada.