A chuva vinha em lâminas cândidas, cortando a madrugada em diagonais. Aline entrou sem pedir licença, encharcada, o cabelo colado à testa, a pasta de papel pardo inchada de água. Largou tudo na mesa e disse apenas:
— Acabou… ou quase.
Vivian sentiu o peito falhar um compasso. Eduardo já estava de pé antes da frase terminar, puxando o controle da TV, aumentando o volume, trocando de canal até encontrar o turbilhão certo: sirenes, letreiros vermelhos, helicópteros. A tarja gritava: “MEGAOPERAÇÃO DERRUBA CARTEL PARANAENSE”. As imagens desfilavam num corte rápido — galpões invadidos, homens algemados com as mãos na nuca, sacos pretos em fila.
— Três chefes mortos — disse Aline, abrindo a pasta. — Mendoza, dois tiros no peitoral, dentro do próprio carro, bairro Boqueirão. Correa, baleado tentando fugir pelo porto. César… um ‘suicídio’ em hotel de luxo. E o último nome…
Ela não precisou dizer. A âncora na TV mordeu a palavra com dentes de notícia:
— RAMIRO DÍAZ, apontado como cérebro da org