O dia nasceu com uma luz pálida, quase tímida, derramando-se pela fresta da cortina como quem pede permissão para entrar. Vivian acordou antes do relógio. Não havia pressa; havia a estranheza boa de um corpo que, pela primeira vez em muito tempo, não saltava com o primeiro ruído. Ficou imóvel, escutando a casa. Era um silêncio cheio de pequenos movimentos: a madeira dilatando, o vento atravessando o corredor de eucaliptos, um passarinho testando duas notas. Pensou na biblioteca. No lenço de tia Marlene. No cachecol amarelo de Mariana. O peito doeu e, ao mesmo tempo, se abriu.
Levantou com cuidado, como se não quisesse acordar a paz recém-chegada. Na cozinha, a luz do abajur formava uma ilha amarela sobre a mesa. A caixinha de madeira estava ali, com o bilhete “ok”, o celular antigo e o marcador de crochê lilás — o coração torto. Vivian passou o dedo pela linha, repetindo em silêncio: “Ela está bem. Continua sorrindo.” Era uma frase simples; ainda assim, parecia um feitiço.
Eduardo já