Hellena
A noite tinha gosto de ferro e medo.
O som da luta ainda ecoava na minha mente, como um trovão que não se apaga. Aquele uivo — selvagem, rouco, arrepiando até o fundo da alma — parecia grudado na minha pele.
Eu tremia. Não sabia se de frio, adrenalina ou da lembrança de como Augusto se moveu.
Ele não era humano. Não completamente.
Estávamos sozinhos agora. O silêncio era pesado, quebrado apenas pelo som irregular da minha respiração. Ele caminhava de um lado para o outro, o corpo coberto por arranhões que pareciam cicatrizar rápido demais. E, por mais que eu tentasse evitar, meus olhos voltavam para ele — para a força crua nos movimentos, para o olhar sombrio e intenso que parecia atravessar tudo em mim.
— Hellena… — a voz dele saiu rouca, quase um sussurro. — Você está ferida?
Balancei a cabeça, ainda sem conseguir formar palavras. Ele deu um passo à frente e eu recuei instintivamente. Não de medo, mas de algo mais profundo. Algo que me puxava na direção dele e me fazia quere