(Narrado por Augusto)
O som da floresta ainda não tinha silenciado.
Mesmo horas depois do ataque, o ar continuava pesado — denso, pulsando com o cheiro da ameaça.
Mas o que realmente me deixava inquieto não era o inimigo.
Era ela.
Cada vez que o vento mudava de direção, o perfume da Hellena voltava.
Doce. Suave. Inocente.
Mas com algo selvagem escondido, algo que meu lobo reconhecia mesmo antes de eu admitir.
Eu estava sentado no alto do mirante do terreno do bando, observando a lua que se despedia.
A pele ardia onde o lobo do Norte tinha me atingido, mas a dor física não era nada comparada à que vinha de dentro.
— Tá ferrado, primo — a voz de Rafael quebrou o silêncio. Ele apareceu do lado, jogando uma garrafa d’água. — Tentei te avisar.
— Cala a boca — murmurei, pegando a garrafa.
— Ela mexe com você — ele provocou. — E não vem negar, porque eu sinto o cheiro.
Bufei. — Não tem nada entre a gente.
Rafael riu baixo. — Não tem ainda.
Olhei pra ele, irritado. — Você devia parar de falar