Cael acordava todos os dias sem saber quem realmente era.
Seu reflexo no metal polido da forja mostrava apenas um homem de expressão cansada, mãos calejadas e olhos que pareciam sempre à beira do esquecimento. Trabalhava com o fogo, o martelo e o aço como se aquela fosse sua única verdade. A maioria dos dias, acreditava que era.
Na vila de Marthen, ele era apenas o ferreiro — recluso, sem família, de fala mansa e olhar que evitava o alheio. Poucos ousavam se aproximar. Havia algo nele que incomodava, embora ninguém soubesse dizer o quê.
A verdade é que Cael não se lembrava por escolha própria.
Sua mãe, uma Deturpadora como ele, lacrou suas memórias antes de morrer, usando o último fragmento de força para esconder nele o conhecimento proibido. Ela sabia que a memória era a única arma que ainda ameaçava o rei Vermon. E os Deturpadores, mesmo enfraquecidos, ainda podiam espiar o passado.
— Guarde tudo, meu filho — ela sussurrou, encharcada de sangue, enquanto as chamas da casa ardiam ao