Clara
Apesar das palavras, Theo ainda estava ali, de pé, com o embrulho nas mãos e aquele olhar que eu evitava encarar há meses: intenso, cheio de lembranças e arrependimentos.
Ele se aproximou devagar, como se tivesse medo de me assustar e, com uma delicadeza que eu não esperava, e abriu o pacote. Dentro havia um móbile lindo, de passarinhos costurados à mão, em tons suaves de azul e branco.
— Achei que combinava com o quarto dele — disse, com a voz baixa. — Eu vi e… pensei no Benjamim.
Meu coração apertou. Não apenas pelo gesto, mas por tudo o que ele não disse.
— É perfeito — murmurei, sorrindo sem conseguir evitar. — Ele vai adorar.
Theo passou os dedos pelos fios do móbile e, por um instante, olhou para o bebê com uma expressão que me desarmou completamente. Era como se aquele homem — o mesmo que me feriu tanto — estivesse ali, tentando se reconectar com o filho e, de algum modo, comigo também.
— Ele tem o seu jeito calmo — disse ele. — Dorme tranquilo, mesmo com o mundo lá fora.