Noite fria

O sol mal havia despontado no horizonte quando os primeiros passos ecoaram pelo casarão. O aroma do café fresco e do pão recém-assado já tomava conta da cozinha, onde Dona Fátima e Judite arrumavam a mesa do desjejum. A família começava a se reunir aos poucos, com os rostos ainda sonolentos e as palavras ditas em meio a goles de café e mordidas em torradas amanteigadas.

Amanda desceu elegante e serena, o cabelo ainda úmido do banho matinal, os olhos atentos. Sentou-se ao lado de João, que já estava à mesa com a xícara na mão, como se nada tivesse acontecido. Mas para Clara, que surgia logo depois com um sorriso cínico nos lábios, aquilo era o ápice da provocação.

Ela se serviu de suco, sentou-se calmamente e, antes de levar a primeira garfada à boca, soltou com a voz doce e afiada como lâmina:

— A noite passada foi movimentada, não? Tem gente que nem dormiu no próprio quarto... eu vi quando João entrou no quarto da Amanda.

A frase caiu como um raio. O tilintar dos talheres cessou por
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