Na fazenda, João estava no quarto, sozinho. O celular na mão, a tela parada na última mensagem não respondida de Amanda: “Boa noite, João. ”Ele leu aquelas três palavras incontáveis vezes. “Boa noite, João. ” Como se fosse um adeus. Como se ela estivesse dizendo ‘me deixa viver’.Encostado à cabeceira da cama, ele finalmente encarou algo que sempre esteve lá, escondido entre as camadas de proteção, do ciúme, da “responsabilidade”:Ele sempre amou Amanda.Não como um irmão ama. Não apenas como um protetor. Mas como alguém que viu nela tudo o que nunca teve coragem de desejar de verdade.A lembrança da infância veio forte. Amanda, com o cabelo bagunçado, correndo atrás das galinhas no quintal. Amanda, de vestido florido no primeiro dia de aula. Amanda, adolescente, cada vez mais parecida com Ana — inteligente, firme, desafiadora. Linda.E agora Amanda mulher. Amanda decidida. Amanda que já não pedia permissão pra viver.João levou as mãos ao rosto. Pela primeira vez em anos, ele sentiu
Ler mais