Aquela tarde de primavera era fria como um inverno esquecido. O céu límpido deixava o sol refletir sobre a neve ainda acumulada nos campos. Ao longe, cavalos relinchavam nos estábulos, e o som ritmado dos tratores costurava a paisagem gelada da Fazenda Volchya Dolina — o império silencioso da família Duarte.
Amanda caminhava entre a neve rala, os passos firmes. A camisa jeans amarrada à cintura, o gorro de lã cobrindo os cabelos rebeldes, e uma prancheta apertada contra o peito davam-lhe um ar de força e propósito. Ao seu lado, Ana acompanhava cada relatório como quem revisa um legado.
— O curral doze teve queda considerável este mês — disse Amanda, os olhos fixos nos números.
— Muito bem notado — respondeu Ana, com um raro sorriso. — Já te disse que nasceu pra isso?
— Já, mas gosto de ouvir de novo.
Ana pousou uma mão no ombro da sobrinha, com ternura e firmeza.
— Você é o meu maior acerto. Tem mais pulso que muito homem. E os russos que o digam.
Amanda sorriu, encabulada. Aquelas pa