Era uma sexta-feira de céu encoberto, o tipo de dia em que o vento parecia sussurrar segredos antigos pelas calçadas. Amanda saiu da escola um pouco antes do habitual. Sabia que não iria para a empresa naquela tarde — como de costume nas sextas, seguiria direto para a fazenda, onde assuntos importantes a aguardavam ao lado de Ana.
Ao atravessar o portão, seu olhar foi imediatamente capturado por um carro preto estacionado do outro lado da rua. Encostado à lataria, com os braços cruzados e uma expressão indecifrável, João a observava com olhos carregados de perguntas não ditas.
Amanda hesitou por um instante, respirou fundo e caminhou até ele com passos lentos, quase cerimoniais.
— O que está fazendo aqui? — perguntou, mantendo a voz neutra.
— Hoje você não vai pra empresa, e eu... — ele coçou a nuca, fingindo casualidade — pensei em te levar pra casa.
— Eu ia de táxi.
— Eu sei.
— Então por quê?
João suspirou, um cansaço velho pesando nos ombros. Quando falou, a voz saiu baixa, quase f