[...]
Um silêncio espesso caiu entre nós. As palavras ficaram reverberando na minha cabeça.
“Você me escolheu.”
“Estragar o contrato.”
Uma faísca súbita atravessou a penumbra da minha mente — não era lembrança inteira, mas um estilhaço: um quarto mergulhado no breu, o perfume denso de jasmim impregnando o ar, uma mão que não feria, um calor que não nascia do medo.
Meu corpo reconheceu antes que a razão alcançasse. Os dedos se cravaram na borda da mesa, como se aquele pedaço de madeira fosse a única âncora contra o abismo que se abria sob meus pés.
— Eu nunca… deveria — a frase tropeçou na garganta, áspera, quase um sussurro. — ... ter escolhido você pra nada. Não depois da sala branca. Não depois da assinatura.
Ele me olhou com algo que eu não soube nomear. Não era pena. Não era soberba. Talvez fosse luto.
— Mas escolheu — disse, baixo. — Quando ainda era Helena. Quando ainda acreditava que podia vencer o jogo usando as regras deles contra eles.
Fez uma pausa.
— Não sei se foi a melho