“Amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem o pássaro pousado no dedo sabe que a qualquer momento ele pode voar.” — Mário Quintana
O dia seguinte ainda tinha o cheiro de aeroporto quando a noite começou a se alongar nas janelas do hotel.
Renata passou a mão pela maquiagem com a precisão de quem veste armadura: delineado exato, batom vermelho, o tom que transformava silêncio em comando.
O vestido preto abraçava o corpo sem pedir licença; os saltos, lâminas elegantes para cortar o caminho entre o que sentia e o que mostrava.
Uma mensagem de Dayse surgiu na tela: “Reunião com a equipe às 9h amanhã. Hoje, respira.”
Renata respondeu com um emoji seco, a tradução mais honesta de tudo o que não cabia em palavras. Respirar parecia luxo caro.
Matheo avisou que estava a caminho. Não um talvez, não um depois: um estou indo. Ele nunca deixou de ser esse porto que se aproxima com luzes acesas, mesmo quando o mar não prometia nada além de marés perigosas.
Dormiam juntos noite sim, noite também